terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Nicolau matreiro (e a fada dos dentes "Express" IV)

Ouvi um barulho de remexer com eco de fundo. Palpei e peguei na arma que tinha á mão: um "crok" branco! Deixei o vale das mantas, levantei-me de tronco nu e sorrateiro, pé ante pé, atrás da minha sombra e de arma segura em punho... Fisguei a sala, e o vulto irritado deambulava praguejando em silêncio: "Fuck! Fuck! and Fuck again! It´s so late!" 
Liguei a luz, ostentando o "crok" branco, apanhando o desprevenido em falso: "Pare! ... e mãos bem visíveis!" O vulto atónito, de capacete de cabedal vermelho e suas lunettes  motard, barba de várias décadas branca, kilt escocês de padrão xadrez preto e vermelho, t-shirt "I love to Rock X´mas" vermelha de pintas encarnadas, botas dr. Martin, gentilmente levantou as mãos vestidas de luvas brancas; os braços denunciavam biceps trabalhados de ginásio; "Laponia mum's love", "Mary´s X´mas" e a face de riso macabro de Jack Skeletton, eram as tatoos que o ornamentava! "Calma! Vim só deixar os presentes! Não quero criar problemas!" disse-me ... Segredei para mim, caindo numa hipotética realidade "Estou feito! A testosterona vai suprimir a minha existência da face da terra, com tanta pancada que eu vou encartar nas trombas!" Um autentico armario de classe XXL! O "crok" fugiu-me da mão, deixando-me por minha conta e risco! "Quem é o senhor?" Questionei com algum temor... 
"Quem eu? Não dá para ver?" Olhando estupefacto para si mesmo! Estendeu-me a mão "Nicolau! ... Muito prazer! Embora muita gente me trate por Santa Claus!"
"Mas o que faz aqui?" lançando a questão sem fé... "Oh amigo! Que noite é esta? Que horas são?" Cocei a cabeça "Bem! É véspera de Natal! E são 23:57!" Respondi convicto... "CERTO! Ding ding ding! Muito astucioso sem dúvida!" Elevando os enormes braços num aleluia aclamado aos céus. "Mas não será tarde demais, para visitar todas as casas?" Perguntei. 
"Bom! Realmente saí de casa eram 23:56! Esta é a ultima casa na Europa... Ás 23:57 estou no Americano, 23:57 na Asia, 23:57 na África, e 23:57 na Oceania, e por ultimo para fechar com chave de ouro, tenho reserva em Vanuatu, num resort!... Fuma?" puxando um Coribas de cuba, enrolando-o entre o nariz e a barba, sugando o aroma característico duma pausa! "Agora não! É meia noite..." parando o manusear do charuto... "Perdão! 23:57 para ser exacto!" Interrompendo-me e consultando o seu Breitling ... 
"Vai uma bolacha?" Ofereceu-me o aroma a canela chocolate do prato, que eu deixara na companhia do copo de leite branco e do pinus pinaster verde, "Eu gosto é de um panado, entre duas folhas de alface, uma rodela de tomate e duas fatias de pão integral simples... e o remate de um copo de gasosa Sepol com Groselha a tingir, ou também me contento com um tinto Alto Alentejano!" frisei as sobrancelhas, pelo meu esquecimento! "Não tem importância! Combinamos para a próxima visita!" Dando uma palmada nas costas. 
"Eh pá! 23:57! Tenho que me por de frosques! O tempo urge! Fuck!" batendo os calcanhares militarmente dando o sinal de assunto resolvido. "Por falar em visita, tens ai alguém a porta!" e sorriu... 
Dirigi-me á porta... "O que faz aqui?" 
"Vendo enciclopedias, ó Einstein!" disse-me em tom irónico, colocando as mãos na cintura... Reconheci a figura esguia e franzina, com as sete saias nazarenas vermelhas, meias meia perna de lã vermelha, de botas cardadas alentejanas, casaco curtinho de pele vermelha, com fita vermelha cetim a rematar cabelo preto curto "Aproveitei a boleia do Nicolau!" indicando para a Night Rod vermelha metalizada estancionada sobre a calçada. "A tua filhota tem algo que me pertence: um pré-molar!" confirmei num aceno de encolher de ombros ...
Voltei para dentro para intercalar o Nicolau... Mas já estava de saida com a sua sacola de pele. "Amigo! Esta converseta estava agradável, mas o resort aguarda-nos! Não é ragazza?" Apalpando com um sorriso manhoso a fada dos dentes, que fora num pé e viera noutro "Já tens o que querias?" Acenou num consentimento sorridente e matreiro, ... "23:57! Let's go baby! Que a noite é nossa! Oh oh oh oooooh!" montando a endiabrada Harley, com a sua pendura. A igniçäo abriu o caminho de estrelas que semeava a noite. Semi rodou o pulso, e o motor respondeu á ordem, sem restrição, ... rugiu e saltou para a noite! O rasto desvaneceu-se atrás do luar! 
"Fuck! Quem diria!" falando para os meus hipotéticos botões... 
"O que fazes aqui fora nesta noite, e com este frio?" pergunta-me a esposa, resguardada por uma manta polar vermelha ... olho para o relógio ... 00:08!
"É Natal amor! Feliz Natal!" um beijar e entramos para o calor! Os presentes residiam junto ao pinus pinaster que pisca em tons cromáticos pscicadelicos ...
"Que cheiro a tabaco é este? Estiveste a fumar?" ... Ele esteve aqui!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O bom do Natal


Este Natal foi diferente dos demais, sem sombra para dúvidas, … senti que sim. Talvez agoiro da dita crise, ou o afoito de presentear quem nos acompanha na vida, quem nos ama no dia-a-dia; não sei … das duas, três.  
As vitrinas de ostentação, luxúria, inveja, … um rol de “não sei o quê”. Foi literalmente, nu, puro e cru consumismo desenfreado.
E contra mim falo, … esqueci-me do verdadeiro espírito do Natal. Se ele soubesse, o quanto o valorizei, e agora, o quanto o desprezei … O olhar ao lado, de quem fica desabrigado, só, doente, desnutrido, frio, … esquecido. Devia de me ter flagelado, … ter espetado dois pares de estalos, bem dados, … e acordar para a realidade. Mas não! Cabisbaixo, deixei os braços caídos, e nem um dedo mexi … deixei-me levar.
Pelo canto do olho vi, e valeu pelo dia,... o que eu vivia á 30 anos atrás, … acordar dia de Natal bem cedo, … chamar o mano, … correr desvairado para o presépio, … sentir o calor da fogueira já acesa, … os pais que nos aguardavam impacientes pelo momento, … e abrir as prendas: um chocolate Regina, e um par de meias de algodão para usar na missa de Domingo.
Desejei chorar, pelos momentos nostálgicos, … pelo acordar de sensações de cada Natal que vivi, … é a sensação do “ó tempo volta p´ra trás”, do coração mole, …
O filhote, deslumbrado em regozijar-se com um brinquedo que fala, … a filhota, uns livros que tanto aguardava … foi a magia. Valeu pelo momento, valeu pelas pequenas coisas, que eles não exigem …
Mesmo assim, na ponta do coração mole, lembrei-me e desejei-lhe a todos, sem excepção, uma boa noite quentinha de amor, fé e esperança, … claro que não enche a fome, não aquece o frio, não acalma a doença e a solidão, … mas o desejo está traçado, porque o Natal é quando o homem quer, e não quando o calendário manda.
Um bom Natal … para todos os dias. 

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A gata Pink...

A brisa convida, ... embalo o balouçar dum possível lagartar
O bafo persiste,... calor subjugante, interminável!
Os miúdos aproveitam o ar livre da sombra, brincando na calçada, nas suas carolices de ingenuidade.
O ronronar ressoa; abafa a interessante e incessante conversa de duas cigarras, a despique usual, a que estava atencioso! 
"Os pormenores são deixados ao acaso, dono?" disse-me lambedo a pata na calma usual, mas cocei a cabeça num gesto de não entender o interrogatório. 
"Refiro-me aos trabalhos que fiz!" alisando os bigodes, tentando responder á provável questão, agora esquecida... "Trouxe-te um rato, deixaste-o! Como tão pequeno era, trouxe uma pomba! Nada me disseste!" preguiçosa, estirou-se aliviando a pressão da conversa... Ergui-me da espreguiçadeira... 
"A lebre ..., a raposa, ... o cavalo, ... finalmente o urso, que até tropeçaste  nele." calou-se, ... aguçou a orelha, ... engoli um travo seco... voltei a recostar-me! "E tu que me deste! Um punhado de ração seca, uma tigela de leite, uma cama seca e quente... Nada que me conforte! Não faço frente a quem tu amas... Deixo-te!" Saltou num "plié" delicado... olhou-me mais uma vez, dando-me um desvanecer da sua figura felina! 
"Com quem falavas?" abordou acariciando-me o rosto, no seu vestido retro castanho e azul, padrão que define a silhueta feminina, recostando o calor dos seus seios, contra o meu peito... Beijou-me!
Mexi-lhe no cabelo preto, afastando o que lhe cobria o rosto, ... sussurrei-lhe ao ouvido 
"Era a Pink! Deixou-nos!"

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O rei do pião

É certo que o pequeno prato, não era mais que redondo! Perdão; uma malga! 
Ao centro, uma auréola, que adornava o rebordo num azulado caiado. No fundo, uma pinga de leite angelical morna! 
O fitar do olhar, mantinha o horizonte num "frame" momentâneo,... A mão segurava a cabeça, para ela não cair! A manhã entrava pela janela! O sorriso persistia! 
"Filho! Olha o pão que torra junto ao lume!" ouvi na distância,... Mantive a postura! A pitoninha desandava incansavelmente, expulsando os outros piões, numa "roda bota fora" ... Ganhara, finalmente! Eu pulava, ... o pódio era meu: "O Rei do Pião".
Sem dar por ela, quase do nada, uma calduça bem dada, surge! "Eu não te disse! Agora comes cabozes ou carvunços! Raio da cabeça ao vento, sempre no mundo da lua!"
O pão quebrava, como uma caroça de crutos bem secos, ... crunch! crunch!
Ganhara, ... em sonhos, é claro, mas ganhara!





quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Pão com Deus, Bolinho ... Aromas!

No final do dia, mergulhando ja na noite por imposição do anoitecer antecipado, caminho sob a frouxa luz de sódio que ilumina a minha sombra... A rua permanece calma, ladeada pelo fumo dos casebres, um quintal deles, se tanto ... Ergue-se um pequeno nevoeiro doce, quente... O aroma, marina a penumbra, temperada com farrapos de erva doce, canela e cravinho... Sente-se o aconchegante cheiro do forno que guardou o calor durante a tarde, e é libertado ao final do dia ao retirar o produto do tender da massa. 
Bolinho, pão de Deus, quem quer que seja, sabe bem! É a sua época... A mistura de especiarias, frutos secos, farinha, com o bracejar e lutar insessante do embrulhar desembrulhado da massa... 
Tudo condiz, harmoniosamente, o tempo da levedura, o acachar, o tender, o aconchegar, e o libertar da alquimia de sabores, no abrir da tampa do forno! O não deixar descair do forno, tem a sua arte... A brancura do calor nas paredes,  e do seu lar rubro, no ponto certo. 
A prova chega, com um Abafado, Porto ou mesmo "com dentes" ... 
Já não me recordava destas nostálgicas noites aromáticas!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Bom dia!

"Bom dia!" ...
"Depende da hora e do local onde se encontra!" dizem-me, ...
"É sempre um Bom Dia!" ... não vacilo, e reafirmo ...
... "ao final do dia; aí sim, poderíamos dizer se foi um Bom Dia!" também é um belo ponto de vista ...
"Mas, Bom Dia á mesma!" mantenho.
"O Senhor não anda enganado? Bom dia de manhã!"
"Bom dia!" reitero... esteja o Sol esplendoroso, escondido ou tumultuoso ...
"Bom Dia!" ...


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Continuemos

Ahhhhhhh! Fui um autêntico ... baldas, assumo.
Deixei determinantemente esta ocupação ... da escrita ... fui de férias. Agarrei essa nobre e bela arte de preguiçar e "lagartar", estendi pela seara a manta, á chapa da sombra do chaparro e ...., e o bem que fez ... não soube a nozes, mas soube a ócio. Ainda cumpri, com algum custo e esforço, a parte da sesta ... fatigante.
Continuemos ...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O grandão está grande

Demos pela manhã, ainda dormia pesadamente, os parabéns, a este nosso pequeno "grandão" ...
Traquina de ocupação, de olhos grandes que absorvem os dizeres, de palavras que tropeçam ainda, ...
mas ouvinte de nós, da família.
Ainda um navegante, nas histórias do léxico infantil que abundam nas prateleiras do seu imaginário.Possível mini fundiário, que mexe e remexe na terra preta, de mãos nuas, conquistando cada nova experiência, marcada na tez marron da sua pele, e nos fios de suor empoeirado do corpo "É surro, pai!" sublinha alegremente pelos tatoos da terra.
Despica e birra, por ninharias, com a filhota, ... mas adora-a, ... não são um sem o outro, ... ouve as suas conversas, e que nem um audaz cavaleiro, cumpre.
Já de algum tempo a esta parte, que nos relembra por algumas vezes: " Já sou grande! Vou fazer quatro anos!" Coçamos-lhe o cabelo num consentimento ...
Parabéns ...

sábado, 11 de junho de 2011

Obrigado ...

"Comer massas fortes e resinosas, para encher o peito e aguentar o percurso!" costuma dizer o comparsa do hobbie matinal de Domingo.
Faço hoje mais um ano ... e sou tão pequenino.
Ladeado pela família, rodeado de bons amigos, ... adicionando mais um punhado de amizades ... preservo-os a todos, não tencionando perder um que seja.
Obrigado a todos os que em "actos, pensamentos e palavras" me ajudaram, saudaram, e felicitaram.
Espero retribuir a todos, a sua disponibilidade, os seus sorrisos, as suas bem-aventuranças, ...
O meu muito obrigado!

terça-feira, 31 de maio de 2011

Sapatinhos de veludo ...

"A historia do Peter Pan, que salva os índios e a outra Índia!" disse-me acomodando o livro da sua escolha, debaixo do braço, galgando para a sua cama. Mirabulante! Anda a tomar o gosto das coisas! A irmã quer, e ele porque näo... O facto de se ler uma historia à noite, na caminha, descansa-os, e o facto é que inesperadamente, ele começou a apreciar. Seja eu, seja a mãe ... o momento é de atenção. Inicia com rimas cantaroladas, sentado junto a nós "... sapatinhos de veludo, ... "
Fiquei, talvez mais que ele, fascinado! Não sabendo ler, escuta, observa e sente, tal como a irmã ainda aprecia! Neste momento, o burläo sou eu, que nunca mais renovo a sua pequena biblioteca; as vezes que li e reli as obras dos irmãos Grimm, de La Fontaine, de Lewis Carol, de Carlo Collodi ...
Progressivamente vamos recheando as parteleiras, e o descanso näo é nenhum enquanto não for devorado! O gostar de ver, percorrer as ilustrações, as palavras, ... Aquele brilho de que "gosto do que dizes, vou sonhar com o que me lês!"
Gostamos muito!

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Calor, ... que ardor!

A fase mata-me, ... agrada-me, mas incomoda. Cada fio de cabelo, um pingo!
Talvez uma ribeira, me ajudasse, a equilibrar esta discrepância de caldura. Porque a neve não nasce e floresce, nestas alturas, toda espigadota, para poder enterrar os meus pés, e amainar este calor?
Bem, isto já dá para derreter ... aguenta.

terça-feira, 19 de abril de 2011

A estrela M.

No momento caímos, ... nem conseguimos verbalizar o que sentimos, ... choramos, porque também somos pais; enchemos os olhos de agua, porque era a nossa menina, ...
Complacente, nem acredito! Choro somente! ... Nem sei que diga a uns amigos, que lhe desmorona o mundo, cansados da luta diária e atroz, contra o tempo, ... contra algo que ... não sei!
O que eventualmente poderei conseguir tangir, será o conforto do abraço, uma palavra de coração combalido, um reconforto de pais para pais. Uma etapa de vida que tentamos, acompanhar do nosso melhor modo e capacidade, ... mas nunca superior a quem a ama, cria e acompanha dia-a-dia. Por isso choro, ... pois mesmo o meu pedido, o mais pequeno e o maior, não lhe afastou esta hora.

Transmitimos aos filhotes o sucedido, ... a filhota chorou, já deitada, ... "Pedi todas as noites por nós, e pela M.! Tinha saudades dela!" humedeço os olhos, e deito-me no seu travesseiro, ... canto-lhe a música de sempre, que a sossega ao mexer do seu cabelo ... "Vai aparecer a sua estrela lá em cima?" perguntou ...
"Claro que vai! É mais que merecida! ... E já lá está!" tranquilizei-a ...
O grandão, disse-me que queria brincar com ela, somente, e ... eu entendo a sua ingenuidade, a sua pureza traquina!
A vida deveria seguir o seu curso natural, ... até já M.!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ser o primeiro ...

Em tempos, não tardios quanto isso, a esposa tratava destas questões, que como se costuma dizer, "trabalho que ninguém vê, mas de enorme significado!" agora entendo ... dia tirado propositadamente, para o efeito.
Começámos o dia por uma das pontas, ... primeira volta,  a vacinação ...
"Pai! Quero ser o primeiro!" declarou o grandão, para o desconhecimento de causa, mas empolgado por ser novidade, nesta fase...
Entrámos na sala de paredes azulejo branco, coberta por algumas informações de instituições públicas, e enfeitadas com bonecos do imaginário infantil ... uma enfermeira com a experiência estampada numa bata manualmente pintada de flores, palhaços e afins, ... uma assistente, nova no ramo e na idade, que sorria e administrava a respectiva imunização, ...
"Bom dia! Posso?" permanecendo á porta, aguardando pela vez do freguês, de mãos dadas com os filhotes ...
Entrámos com a simpatia da recepção da enfermeira "Entrem! Entrem!"
"Eu quero ser o primeiro!" frisou de novo o grandão, sentando-se no almofadado banco castanho, de pronto!
"Muito bem! Vamos cá ver este menino, como anda!" paginando o seu pequeno boletim de vacinas. e nada encontrando... "Hum hum! Está tudo em dia! Estás aviado!" ... saiu do banco, um pouco constrangido! A vez da filhota chegou, tomando o lugar do irmão, que pronta e manga arregaçada, valentemente cerrou os olhos e ... "Já está!"... e para dar o exemplo, o próprio ... "moi même!" ... o dito reforço, que comparo a uma forte martelada que desfalece sem dó, atingindo todo o ombro,  ... ainda se ressente!
A outra ponta, chamava-se dentista, ... " Pai! Quero ser o primeiro!" frisou o grandão, novamente!
Entramos, no consultório! A dentista aguardava junto a uma cadeira espectacular, "com luzes, botões e tudo" para espanto dos miúdos, ... recebeu-nos ainda de mascara verde, mas depressa destapou o sorriso, removendo o lado temerário da especialidade: um pôr á vontade! Depressa o grandão, tomou o seu lugar, na cadeira que "sobe e desce, e meche assim e assim", como um astronauta na sua spaceship ... a luz ajustou-se até á distância necessária de observação, os reactores fizeram a ignição, contagem decrescente, e ... "Huston! We have a problem!" ... quase havia um lift off; a dentista observou, e ... "Já está!Não é preciso mexer em nada!"
Desiludido, saltou da cadeira espacial, deixando o seu sonho, dando lugar á mana. Sentou-se a filhota, e embora elucidada sobre a situação, recostou-se duvidosa e apreciou o momento. Tudo normal, ... um ou outro dente de leite por cair, mas o normal, ... uma limpeza de rotina.
No fim de contas, atadas as pontas das tarefas, o grandão desejava por ser o primeiro a usufruir das novidades, ... pisar o desconhecido, quiçá!
No sofá, á noite, acabou por ser o primeiro ... o cansaço das emoções. o sono revigorante, recostou-o na cadeira que voa pela galáxia sideral, cheia de fantasias, brincadeiras ... foi o primeiro!

quinta-feira, 31 de março de 2011

O homem do bigode ...

A imagem está criada ... o grandão não suporta, ... e respeita.
Contudo, a personagem, ajuda na persuasão e no talhar da moldagem da personalidade do grandão, ... onde á uns escassos anos surgia o monstro das bolachas, hoje surge um homem do bigode.
Casualmente criado no imaginário dos avós, cria o respeito e a atenção, afasta o mau comportamento, e obriga a comer a sopa toda.
A descrição pormenorizada, ainda não tem consenso, ... "o homem do bigode".
Mas o grandão, já passou por dezenas de homens com bigode, e nenhum sequer aparentava atemoriza-lo, ou aterroriza-lo.
A aparência sugere-me, que seja um homem de bigode fartudo branco, não farfalhudo, de pele de tez queimada do tempo ténue, olhar claro limpo, de dar confiança numa conversa fácil de tom calmo e seguro, cabelo branco de uma vida, arrepanhado a brilhantina, ...
Para ele simplesmente "o homem do bigode"!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Simplesmente parabéns, ...

A princesa faz anos! Poucos, mas bons...
Apesar do ano que passou ter sido um verdadeiro teste da sua adaptação, á vida, ás prioridades, ás separações, ás novas amizades, ás novas etapas, aos novos obstáculos ... cresceu!
Uma pequena mulher, que chora, que grita, que não entende, que brinca, que agradece, que pede, que pergunta, que cede contra vontade, que sorri, que ouve, que responde, que ajuda, que percebe, ... que sabe ser uma menina de seus pais. Temos orgulho nela, ... também o grandão, a abraça de meiguice e a adora, apesar dos despiques territoriais...
Gosto dela, ...
À noite, ao deitar, depois das mantas entaladas, dois dedos de conversa cochichados, ... um sorriso, um contar duma tristeza, uma risada, uma preocupação, ... mão pelo cabelo, e uma música de embalar ...
tudo se desvanece num sono, ... o sorriso!

terça-feira, 15 de março de 2011

Aplicar Violência ...

"Mas que merda é esta?" bolçando o chão de carvalho ressequido, com uma enorme golfada de sangue...
“O que querias? O hábito empurra-nos para o desleixo!” calcando uma testa húmida e suada frieza … “Gertrudes! Gertrudes! Ajuda-me aqui! A força não chega para abater este intolerante!” clamando para um corredor vazio e ornamentado de papel parede descolado e esverdeado de flor lis …
O chão cedia ao bater temerário dos saltos, de uma dominadora impaciente …
“Força-o a estabilizar, enquanto acabo!” olhando para a assistente que se encaminhava para mim, arregaçando a sua meia manga, de braços do diâmetro de uma coxa … os meus olhos reviraram, ao infligir tamanha força, sobre os meus braços e peito … “ Aguenta-o firme!” As mãos enluvadas, forçaram  para separar os queixos ...
O candeeiro cambaleava, numa dançante pálida luz que ia e vinha … 
…”AAAAAAAArrrggggghhhh!” numa convulsão de dor, que me arrebatava os dedos dos pés, contorcendo as ponta das orelhas, e estirando cada naco de musculo … "Segura-o! É só pôr a alavanca, e ..." á medida que o frio inox, penetrava na carne, contrabalançava a angústia, a raiva, a dor ...  
“Finalmente! Um queixal, … tiveste juízo rapaz! Larga-o Gertrudes! Já temos o que querias!” ostentando em contra luz, para um pedaço de marfim esmaltado, entre dedos … “este ainda é dos puros!”
Atirou-o para uma cuba de inox, enxaguou-o, e delicadamente seco, enfiou-o na sua bolsa escarlate. Beliscou-me as maçãs do rosto, cochichando ao ouvido … “finalmente! Uma espera longa, mas merecida!” sorrindo em tom de sarcasmo.
Ergui-me na maca … pus a mão aos queixos. “Quem é?”
“Não a reconheceste?” … cocei o cabelo, e o queixo novamente “Não!” ...  aceito um copo de vinho … “Bochecha e engole! Purifica!”
“Não a reconheço!” bochecho engolindo o último trago do copo …
“Uma das … Fada dos Dentes!” tirando a bata … “Quando não caem a bem, saem a mal!”

Por ditonysius


quinta-feira, 10 de março de 2011

XiX

"Senhor! Julgo não conseguir, executar a minha missão!" disse pelo auscultador, ... do outro lado, a serenidade deu lugar ao acentuar do tom de voz ... "E porquê?" respondeu...
A linha mantinha algumas interferências estáticas, e o pulsar rápido, duma chamada de longa distância ... "Este temporal rotineiro, ... não deixa prosseguir! A adversidade é enorme!" lamentei ...
"E acha que a sua missão, é adversa?" ... indagou ... "O que me prometeu, ao tomar esta missão, como sendo exclusivamente sua?" ... silenciou-me. Passei a mão pelo rosto, que retinha algumas gotas de chuva que resistiam ... olhei para a mão esquerda ... uma aliança, de ouro solitário, ornamentava o dedo anelar ... brilhava entre lama, óleo, tez da pele, ... "Consegue, ou não? Responda!" interrompeu a minha fixação ... "Já atravessou calamidades bem piores, ... já sacrificou o seu orgulho, ... já atravessou vales de combate e deixou os seus despojos, ... já está nesta luta há 19 anos! Nesta missão, lucrou com os seus dois maiores tesouros!" caí em mim ... "Limpe as suas asas soldado. Isto não passa duma chuva "molha-tolos", um cacimbar suave, ... a sua missão continua! Ela espera por si!"
O telefone recolheu ao descanso, com um sonoro "tu-tu-tu-tu-tu" ... consertei o boné. Olhei para o relampadejar  que iluminava o céu rasgado de nuvens cinza pesadas. Pus a mão na sacola de cabedal , que sustentava a tiracolo... o coração batia fervorosamente ... acomodei-o junto á paixão, e enrolei-o no desejo.
As saudades do olhar amêndoa sol, apelavam ...
Atirei-me ao temporal...
...
"O que acha milorde?" ...
Serenou o telefone, no descanso, ...
Coçou o queixo, e a sua longa barba branca, ..." Acho que me podes trazer o cachimbo, o tabaco de aroma a canela, ..." acomodando-se na sua poltrona de pele Victoriana marron, junto ao crepitar da lareira, que o iluminava ..." acompanha-me um copo de vinho tinto do Alentejo; ... traz-me uma torrada de pão grosso, barrada com alho e tomate, pincelada com azeite da Serra, salpicado com orégaõs; o amor desperta-me o ócio ..."

sexta-feira, 4 de março de 2011

Super Hero ...

Não sei o que se passou, ... e se passou, foi totalmente ao lado. O choro, o ensufrinhado, o colo, ... sei lá! Uma reacção nunca esperada.
Este ano, no jardim de infância,  o desfile carnavalesco, era de tema livre; cada um escolhe a sua fantasia, a seu belo prazer, digamos.
O grandão escolheu a sua, ... um imponente herói, na sua fatiota de licra azul, com o "six pack" todo evidenciado, peitorais sobressaídos, braços de Atlas, e capa que esvoaça de vermelho!
Empolgado, para se apresentar aos amigos, como o salvador, contra padeiros, sardinheiras, spider-men, batmen, cowboys, palhaços, ... e limpar o ... jardim de infância, de todos os malfeitores.
Não correu bem; as nossas expectativas, de ver o grandão, extravasar alegria, gritos, sorrisos, saltos, ... ficaram por terra. Nada feito! Choro, mimo, ranhoca ... enfim, nada que estivéssemos á espera.
Penso eu, que estava por lá escondido o vilão com a sua super arma da tristeza, e apanhou desprevenido o nosso super-herói, com um golpe fortuito, e baixo! 

quinta-feira, 3 de março de 2011

Ser do tempo

Poderia começar pelo típico “ainda sou do tempo” (eu e muita gente, certamente), … mas não era a mesma coisa, … em que passava e respeitava os mais velhos da terra, nas ruas fartas e cheias de pessoas, lá do lugarejo. Ao Domingo, onde a capela, se dividia em cores caiadas de branco e cantos azulados, rompendo ao centro, entre a população conversadora nos seus fatos domingueiros de flanela, linho e algodão, que vociferavam aqui e ali, do amanho, do gado, do cultivo, dos alqueires, da cidade, das maleitas, das curas e da aldeia; de crianças que corriam á apanhada, entre gente e claustros, animando o tempo e o início de um dia do Senhor … dos campos cheios de cores hortícolas, e ranchos de povo, que ritmavam a terra com seu sacho, o seu saber, o seu poema, … de bravos homens tisnados que conduziam, de braços arregaçados, a sua parelha de gado bruta, pelos carreiros de terra, já traçada, para recolher o sustento do dia-a-dia …
Os tempos mudaram, para todos como é óbvio, e hoje vejo a rua, o campo, a eira, … que aguardam pela passagem do testemunho, dos mais sábios, aos “atletas” sem tempo, futuro do amanhã …
A aproximação é parca e vã, … mas aqui e ali fomento-a ao grandão (filhote), que também tenha amigos “mais grandes”, e com uma dedilhada de experiência superior … o cumprimentar, não com o saudoso “dê-me a sua bênção”, mas um simples apertar de mão com sorriso, justifica a satisfação de uns alegres contentamentos e esquecimentos de solidão, … é a paga. Até no baralhar de palavras e acrobacias de patacoadas, a alegria volta a surgir.
Afinal, ele sempre lá esteve, … escondido por detrás de uma vida de sofrimento, por detrás de uma paixão arrebatada e mais tarde incompreendida, por detrás de uma crise de força maior, por detrás de uma fome e sobrevivência de um filho, por detrás de um esquecimento de um familiar numa cama ou numa doença, por detrás de uma incompreensão de palavras, … o sorriso, nesse mesmo momento, salta, apesar do sofrimento, … e eu ainda não vi todos os que saem, mas sim alguns, e a feição bem que é acolhedora.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Pais como nós ...

E que faço eu, ... aguardo, ... carrego nos olhos lágrimas, prontas a sair, ... e espero!
Se o crer curasse ... mas nem as palavras, atingem o seu verdadeiro sentido: reconfortam, pedem, pensam, agem, acalentam ... mas o cingir, o aliviar de uma dor ... não!
Um passar a mão pelo rosto enfermo, e arrastar comigo, toda a maleita, ... transformar um silêncio, num rasgado sorriso ... um abraço de impotência, num vigoroso salto de alegria ... é o meu querer.
O conforto que planto, aos amigos ... nós estamos aqui!
Abraço os meus filhotes, o maior tesouro de todos, ... e choro o agradecimento, ... pelos momentos que me oferecem e me transformam em homem, amigo e pai, ...
E pelo dúbio, imponderável que eu sou, ...  choro, ... a vida é uma alegria, apesar "disto e daquilo" por que passamos.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Canal directo para a oração ...

"A algum tempo a C. pediu-nos que rezássemos, ...  pois é isso que temos que fazer, juntos ou em separado, mas penso que Fátima tem o canal directo para a oração..." saiu-me espontaneamente um sorriso, ... não jocoso, mas sentido pela expressão utilizada ... a M.
A bem dizer, uns quantos amigos, aceitaram o convite, e organizados seguimos ... cada um com o seu sacrifício,  a sua convicção no peito ... com o fim de pedir uma ajuda, pela oração, pela conversa directa com quem nos socorre na aflição da vida, ... embora eu reconheça que, só no desespero, pare e peça, ... esqueço deliberadamente o agradecimento espontâneo da simples vida, do momento, do ser.
Cumprindo o sacrifício, e participando no calor da procissão das velas, pedimos, ... todos recatadamente no seu intimo.
Mas á luz do coração com o nosso crer, talvez tangível, acredito que a ajuda singre.
 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Enches-me o peito ... amo-te!

Namorar, … é mais do que uma flor aberta, …
é a nossa vida, a nossa cumplicidade,
o nosso abraçar,  o nosso barafustar,
o nosso beijar, o nosso relaxar,
o nosso olhar, o nosso silêncio,
o nosso sentir, o nosso compensar,
a nossa tristeza, a nossa gargalhada,
o nosso orgulho, a nossa humildade,
os nossos filhotes, os nossos sorrisos, …
somos nós, … diferentes por acaso …
embora não o diga, enches-me o peito …
amo-te !

sábado, 22 de janeiro de 2011

Retrospectiva

Já lá vai um acumular de 3 anos, ...
Sentado, dedilhando um "QWERTY", redigindo a meu belo prazer, o que eventualmente me inspire, ... continuo , por gosto, a olhar á minha volta, a inspirar os aromas da vida, a receber a dádiva do meio que me envolve, a sentir o agradecimento de conviver em família, ... e escrevo.
Não me acondiciono, a parâmetros estipulados pela retórica da gramática, ... simplesmente.
Aprendo com os amigos, os visitantes, os que encontro, os pastores, e especialmente os que me incitam a divagar...
Os gostos prevalecem, ... um tinto a sair da pipa, ... o cheiro do tabaco curado, ... a chuva que cai numa trovoada de Verão, ... a erva acabada de cortar, ... o conforto do abraço dos filhotes, ... a meiguice da esposa, ... o convívio do calor dos amigos, ... o "sarramoucar" do sofá, ... os ditarotes do povo, ... o ajudar aqui e ali, ...o ler ... a broa quente acabada de "desbroar", ... o crepitar da cavaca, ... o caminhar descalço, ...
Sim, continuo é claro, ... não tanto quanto eu desejo, mas vou continuar a dedilhar, ... pois que agora me caiu na "lembradura", o ímpeto de "e se juntasse meia dúzia daquelas histórias, que ali se amontoam, e fizesse algo mais?".
Sem tentar não se sabe ... volto já!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Passa I

É certo, que o costume e a tradição, instiga-nos a tomar os desejos, e a acreditar nas passas ...
Certo e sabido, os desejos tomados, a entrada com os dois pés no novo ano, e enfrentar o dia-a-dia, ...
Uma delas, que me soube a passas, ostentava um desafio físico e moral, maior. Esse pequeno verbo, que vive de á uns tempos para cá, ao nosso lado, na nossa algibeira, no nosso quotidiano: poupar.
E conforme desejado, assim aplicado. Orientado o dia de trabalho, chega a hora do repasto, o recargar de energias, ao meio do dia. A deslocação, mais que não é muita, 4 minutos, num veículo movido a diesel. Optei por começar a poupar, para já no trajecto: poupo uns trocos no consumo e no desgaste do veículo; movimento o atrofio e o tédio sedentário de uma profissão de expediente geral; e poupo o meio que nos suporta.
É certo que aumenta para 13 minutos, uma deslocação com este veículo pedestre. Mas a compensação e ganho é superior: o saudar e meter conversa com pessoas que eu não via á séculos; o passar pelas terras frescas e amanhadas; o reparar pela transição e mutação do ecossistema; o clarear de ideias; o orar connosco próprios, pelos nossos, pelos amigos, por todos em especial ...
E eu com a mais pálida ideia de que engolia desejos, e daria um término ás passas.
Mas não ... começo a cumprir, uma fase ... ser mais verde.