sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Simbiose de amigo...


Perdi hoje um grande amigo, companheiro, ou qualquer outro sinónimo, adjectivo ou sentimento, de alguém apaixonado por nós e pela vida,... confidente de tantas madrugadas faladoras, de ensurdecedor silêncio, ofegantes geadas, monções de orvalho,... entendíamos-nos numa simbiose natural, tu cá tu lá, que ninguém entendia... acima de tudo respeitávamos os espaços e as vontades, com um aperto de mão! Sempre demonstrou a sua fraternidade, felicidade, de coração cheio, naqueles sorrisos dissimulados e desapegados... mesmo em dias de “cãzoadas” duma semana, voltava sempre; batia à porta escanzelado, á espera dum abraço e duma malga de ração reforçada, á rasquinha para me contar as suas aventuras, por outras terras,... dono do seu e do nosso espaço, guardador de mimos, não haverá igual, tenho por certo! Os miúdos na sua ternura, punham-no maluco, um bom louco!
Ontem despediu-se num último olhar, num último suspiro, ... impotente já não consegui socorrê-lo, removê-lo da sua condição de moribundo, fiquei no meu posto, magoado pela minha "indiferença momentânea"... pediu que o deixasse só, descansando onde mais gostava de dormir as suas frescas e barulhentas sestas ... afaguei-o na sua cama de ervas... enterneci a palma da mão no seu pelo brilhante,... até já, companheiro desta vida!