domingo, 26 de julho de 2009

Agroal e Buraka para um só dia...

Quando os tios da França vêm, esperamos sempre duas ou três coisas: bombons, jouets e umas idas á praia ou á famosa nascente de águas frias, eventualmente termais, ou quiçá de propriedades curativas, conhecido por Agroal. Uma nascente que enclausurada entre tábuas e rochas, fruto da engenharia humana, recria um presa, piscina natural, sempre corrente e fria….
Já lá vão cerca de 20 e tantos anos, que me perdi por aqueles cantos; e hoje com os filhotes, esposa e amigos, seguimos para esta estância balnear. Filas intermináveis de viaturas estacionadas sobre as bermas que não existem; pessoas carregadas com os seus sacos , toalhas , calções, chinelos, chapéus, que se encaminham loucamente como formigas para a nascente, para o melhor lugar da plateia; o calor junta-se, á fresquidão do leito do rio, que canta entre rochas e cumeadas serranas; abancamos na margem totalmente arquitectada, sobre um cais de madeira castanha, com vista para a represa, agora totalmente refeita em betão; sente-se uma chuva de salpicos frios, dos saltos acrobáticos da mocidade que tenta provar o seu vigor juvenil. Desço os degraus até á nascente, que eu já sou jovem; … entro na água, … que é fria como o raio, … está no ponto; … salto… (…) a visibilidade é total, e os olhos não se queixam como nas piscinas artificiais, … mergulho, explorando o leito da represa, tocando na areia e nas rochas, … os filhotes e amigos juntam-se á brincadeira…
Após todos estes anos, a água continua como sempre: no ponto, fria a puxar para gelada.
A família adorou o momento; a filhota desejava permanecer para sempre naquele lugar, … mas o dia arrefece, e a volta teima em ser demorada.
Nota importante a levar em conta para a próxima incursão: aguardar pacientemente por um lugar para estacionar, de modo a evitar uma infracção e á posteriori uma coima, é que a Guarda Nacional, aproveita-se dos momentos de descanso e prazer para nos escrever algumas cartas a cobrar soldo, por estacionamento indevido sobre a berma; eu e outras dezenas como eu.
Fechamos o dia com uma ida ao Bodo; uma festa tradicional da Sicó. Uma banda dos lados da Buraka com o seu Sistema de Som. Muito bom!

sábado, 25 de julho de 2009

Cerastoderma edule

À três quinze dias atrás, entre risos de esplanada e algumas mines, surgiu o tema, …”nunca apanhaste Cerastoderma edule?” . Fiquei logo desiludido comigo mesmo, por não ter ainda, no meu reportório de vivências tal façanha. “A baixa-mar dá-se por volta das 13 horas.” Prontifiquei-me em registar no meu PDA, para não haver qualquer hipótese de esquecimento, e confirmei...
O sms entoou no seu tom de aviso: “às 13h em frente á …”, aprecei-me a preparar o equipamento: calções, chinelos, toalha, geleira e ancinho; dirigi-me ao sítio e hora combinado. A trupe reunida: seguimos para a nossa demanda.
“Está a encher! È melhor despachar senão já não voltam “ dizia um pescador no seu tom observador, que fumava um resto da sua beata. O calor empinava sobre nós; o curso de água iniciava a sua preia-mar; o tempo esgotava; atravessamos o leito do rio entre braçadas e pegadas. Os bancos de areia, ainda demonstravam ser ilhas com um extenso areal, espalhadas pelo leito do rio, povoados de estáticas observadoras gaivotas, e ainda uma dezena de gente que cavava a areia em busca de divino petisco.
Iniciamos a nossa tarefa; ás mãos cheias, cavadela aqui, cavadela ali, e lá surgia entre os dedos o fruto da procura. Saltávamos de um lado para o outro, revirando o areal, que de repente mudara de configuração: começava a encurtar, e a nossa passagem anterior aumentara para o dobro. Cada balde, continha cerca de um quilo, ou talvez mais algumas gramas; dois amigos bradavam para se despacharmos, porque o areal começava a ser devorado repentinamente pela água do mar; vedei o balde, avisei os outros amigos que permaneciam absorvidos na sua epopeia, … “Venham depressa, que a maré está a subir depressa!” … onde subira para o areal, passava agora a força do mar… realmente, onde me fora meter, … não deixei fugir a vontade, … observei as gaivotas que começavam, agora a debicar a areia, … olhei para o curso da água e para a margem oposta, onde os dois amigos já repousavam em segurança, … “está muito forte!” gritavam no meio do cansaço das braçadas, … olhei de novo para trás, e eles permaneciam absortos na procura, qual febre do ouro; … lancei um assobio, e gesticulei o braço, em sinal de saírem rapidamente; … o extenso areal dividia-se agora em duas pequenas ilhotas; … entrei no curso da água, indo contra a força da água, e saltei com a vontade, e com o balde do que conseguira apanhar, … a água empurrava-me contra o meu objectivo; … ao atravessar o curso mais forte, utilizo o balde como guia, e tento flutuar, deixando-me ir um pouco na força, para depois no fraquejar do curso dar uma ou duas braçadas e conseguir libertar-me finalmente, desta via rápida de água salgada; … sinto a divisão da água: fria do rio que me toca nos pés, quente á tona, que entra do mar e, me bate no peito; … imagino-me qual poeta, tentando salvar o seu manuscrito, no meio do Oceano Indico, jogando o precioso balde a salvo para a margem; … o cansaço tenta chamar o pânico, mas os pés pisam chão firme; … estou safo. Atrás de mim, alguém tentou a sorte de atravessar o rio ainda mais forte; teve que ser salvo por um dos amigos que já se encontravam na margem.
Os dois amigos que ficaram, correm ainda para a margem de onde parti, que já submergiu. A ilhota vai desaparecendo; ao longe um barco oferece boleia; … estão safos.
Após tamanha prova de esforço, a mine vinha mesmo a calhar; mas existe um senão: a chave do carro, está com os amigos que ainda vem á boleia no barco de um pescador a remos …
Chegam finalmente, passado uma hora e meia; que securas. Ainda temos algum tempo, vamos descansar ao Cabedelo: segundo parece um pequeno paraíso para surfistas; fiquei vidrado pelo aglomerado e densidade de surfers por m3 de água. Nunca fui ao Hawaii, mas sinto-me espiritualmente cool, flat, na crista da onda e por vezes fazendo o tubo.
A noite inicia o seu regresso; vamos petiscar, o fruto do nosso trabalho, a casa de um dos amigos. Divinal e brutal; até sabem melhor.
Grande berbigão á bolhão pato…

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Coco-locco vs. mine

O tempo não está com nada…
Ora chove, ora um calor de rachar, … diz que é do aquecimento global, ou da revolução industrial. Espero bem que um deles se resolva e se responsabilize, porque arcar com o calor tropical no dia-a-dia, remete-me até aquele ponto do globo, onde um copo de coco-locco na mão, e o coiro na piscina, se torna imprescindível. No entanto, como sou mais moderado e pouco exigente, contento-me com o produto nacional: a mine, ou a Imperial. Refresca a ialma, dá a sensação de frescura ao corpinho Danone (pub), e acima de tudo poupo uns tostões na deslocação ás Caraíbas, para entornar o dito copo de aroma a leite de coco, pela goela abaixo. A incerteza ocupa-me as manhãs com questões irrelevantes para o decorrer do dia: “O que vou vestir hoje? As galochas ou as sandálias; o oleado ou a camisa havaiana?”
Deixai-me consultar o forecast, ou o boletim meteorológico, (…)
Penso que o Equador subiu um pouco na linha do hemisfério norte…
… “O calor abrasador mantém; a humidade relativa está a subir; a precipitação dia sim, dia talvez;” …Tarefa a ser cumprida com a maior das brevidades: repor o stock, abastecendo o frigorífico com chás gaseificados de cevada e lupo.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O piqueno faz anos...

Doid´ano”… disse emproando dois dedos corajosos, desemparceirados e surrentos.
Olhava, calmo, para todos os que estavam na sala. Familiares, amigos, todos juntos para festejar com o piqueno
Um flash, empurrou-me para dois anos antes; numa sala de dilatação, a cavaqueira, rondava umas prováveis férias ás Caraíbas, talvez. Dois amigos enfermeiros, acompanhavam-nos, na solidão da espera… a hora interminável, demorava a passar, …
Ela controlava momentaneamente, as dores da dilatação que iam e vinham progressiva e ritmicamente, … as enfermeiras e parteira, iam e vinham, consultando registos silenciosos. Neste parto, todos os momentos estavam controlados, desde a respiração, ao controlo da dor, até ao focar da força; desta vez decidimos investir numas aulas de preparação para o parto, de modo que entre ambos compreendêssemos, o que estávamos a fazer e sentir.
Na sopra da vela, o escuro atormenta-o, “paiiii!”, corre para o meu colo; levo-o agora confiante, para encher os pulmões e soprar a velita; a irmã ajuda de bom grado…
Depois da epidoral, as dores vão desvanecendo; o aparato agora é maior;… entra o médico de serviço, que brada calçando uma luva, apalpando genitalmente o útero, “o pediatra de serviço, bloco operatório em stand by, a enfermeira …” chegou a hora; o piqueno vai sair… mas algo se passa. Os médicos cochicham entre si. Um dos amigos enfermeiros, tenta descortinar algo entre rumores. O piqueno, com o cotovelo faz pressão contra o cordão umbilical, nesta descida da fase final. Mais uma mexida; … o tempo não passa…
Corre á volta da mesa junto dos amigos, na sua nova prenda: uma “biqueta”. Ri, galhofando das partidas da irmã, … foge, soando de cansaço…
“Tesouras, … pinças, … compressas, … faça só força quando disser!” mexendo num tom imperativo, de quem tem conhecimento da causa. “Está quase! Ele está a mexer-se, … estou a guiá-lo… mais um deslocar, e ….” Num ímpeto não esperado, salta o piqueno, encharcado, chorando um frágil alívio, por tarefa superada, cheirando o antigo lar que o acolheu… Felicitações á parte, tomo um abraço do piqueno e conduzo-o de novo á caminha…
Está cansado; a noite foi uma agitação; aconchega-se no conforto dos braços e descansa a imaginação e brinca nos sonhos; o sorriso sobressai junto á chupeta.
Parabéns, piqueno….

domingo, 5 de julho de 2009

Cabidela á moda de Chaves.

O convite mantinha-se há já algum tempo: á um barril de Imperial, sensivelmente. Juntamo-nos, a comissão antiga das festas, em casa de um mordomo.
O repasto comprometia uma pinga vinícola; mas havia também o não deixar azedar o barril da Imperial. Estava indeciso; o que fazer?
Como aperitivo uma Imperial, para abrir o apetite. Para a Cabidela, o tinto; a ressalvar uma nota de rodapé: o tinto deve beber-se á temperatura ambiente, e não fresco, que cai que nem calhaus. Sobremesa: pudins, gelatina, tarte de natas e pão de , novamente a Imperial.
Além de refrescar a ialma, refrescamos o coiro na piscina temperada.
Para rematar com uns belos saltos bomba e saltos onda, lanchamos umas belas fêveras assadas, e o resto da Imperial que terminou sem darmos por isso.
Que bela tarde, ... que acabou por me criar uma gripezita, ... a água tem destas coisas!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Um amigo, e a sua ajuda...

A soneca tremeu... acordo com o bater manso de algumas folhas, que se precipitam sobre mim; limpei a remela dos olhos... o vento agita o sobreiro, que geme de dor á velhice. As nuvens carregam-se de cinza, ... chuva desata a vergastar tudo e todos. A capa mal me abriga, e os galhos tentam resguardar sem resultado...
Ao longe um casebre, que me surge do nada, assinalado com um pequeno fumar da lareira, ...
Respiro um folgo; embalo-me; corro pela vida de lama, por cima de pedras, problemas e obstáculos, ...
Ouço um silvo, entre os pingos fortes e cheios que me lavam o rosto; paro, viro, concentro-me e ... um caminhante corre na minha direcção: "Abriga-te! ...que a lareira aguarda-nos!"
A porta abre-se guinxando á recepção... ao lado a fogueira que crepita: "Seca a vestimenta; aquece o corpo com esta sopa, e ..." adormeço ...