sábado, 25 de julho de 2009

Cerastoderma edule

À três quinze dias atrás, entre risos de esplanada e algumas mines, surgiu o tema, …”nunca apanhaste Cerastoderma edule?” . Fiquei logo desiludido comigo mesmo, por não ter ainda, no meu reportório de vivências tal façanha. “A baixa-mar dá-se por volta das 13 horas.” Prontifiquei-me em registar no meu PDA, para não haver qualquer hipótese de esquecimento, e confirmei...
O sms entoou no seu tom de aviso: “às 13h em frente á …”, aprecei-me a preparar o equipamento: calções, chinelos, toalha, geleira e ancinho; dirigi-me ao sítio e hora combinado. A trupe reunida: seguimos para a nossa demanda.
“Está a encher! È melhor despachar senão já não voltam “ dizia um pescador no seu tom observador, que fumava um resto da sua beata. O calor empinava sobre nós; o curso de água iniciava a sua preia-mar; o tempo esgotava; atravessamos o leito do rio entre braçadas e pegadas. Os bancos de areia, ainda demonstravam ser ilhas com um extenso areal, espalhadas pelo leito do rio, povoados de estáticas observadoras gaivotas, e ainda uma dezena de gente que cavava a areia em busca de divino petisco.
Iniciamos a nossa tarefa; ás mãos cheias, cavadela aqui, cavadela ali, e lá surgia entre os dedos o fruto da procura. Saltávamos de um lado para o outro, revirando o areal, que de repente mudara de configuração: começava a encurtar, e a nossa passagem anterior aumentara para o dobro. Cada balde, continha cerca de um quilo, ou talvez mais algumas gramas; dois amigos bradavam para se despacharmos, porque o areal começava a ser devorado repentinamente pela água do mar; vedei o balde, avisei os outros amigos que permaneciam absorvidos na sua epopeia, … “Venham depressa, que a maré está a subir depressa!” … onde subira para o areal, passava agora a força do mar… realmente, onde me fora meter, … não deixei fugir a vontade, … observei as gaivotas que começavam, agora a debicar a areia, … olhei para o curso da água e para a margem oposta, onde os dois amigos já repousavam em segurança, … “está muito forte!” gritavam no meio do cansaço das braçadas, … olhei de novo para trás, e eles permaneciam absortos na procura, qual febre do ouro; … lancei um assobio, e gesticulei o braço, em sinal de saírem rapidamente; … o extenso areal dividia-se agora em duas pequenas ilhotas; … entrei no curso da água, indo contra a força da água, e saltei com a vontade, e com o balde do que conseguira apanhar, … a água empurrava-me contra o meu objectivo; … ao atravessar o curso mais forte, utilizo o balde como guia, e tento flutuar, deixando-me ir um pouco na força, para depois no fraquejar do curso dar uma ou duas braçadas e conseguir libertar-me finalmente, desta via rápida de água salgada; … sinto a divisão da água: fria do rio que me toca nos pés, quente á tona, que entra do mar e, me bate no peito; … imagino-me qual poeta, tentando salvar o seu manuscrito, no meio do Oceano Indico, jogando o precioso balde a salvo para a margem; … o cansaço tenta chamar o pânico, mas os pés pisam chão firme; … estou safo. Atrás de mim, alguém tentou a sorte de atravessar o rio ainda mais forte; teve que ser salvo por um dos amigos que já se encontravam na margem.
Os dois amigos que ficaram, correm ainda para a margem de onde parti, que já submergiu. A ilhota vai desaparecendo; ao longe um barco oferece boleia; … estão safos.
Após tamanha prova de esforço, a mine vinha mesmo a calhar; mas existe um senão: a chave do carro, está com os amigos que ainda vem á boleia no barco de um pescador a remos …
Chegam finalmente, passado uma hora e meia; que securas. Ainda temos algum tempo, vamos descansar ao Cabedelo: segundo parece um pequeno paraíso para surfistas; fiquei vidrado pelo aglomerado e densidade de surfers por m3 de água. Nunca fui ao Hawaii, mas sinto-me espiritualmente cool, flat, na crista da onda e por vezes fazendo o tubo.
A noite inicia o seu regresso; vamos petiscar, o fruto do nosso trabalho, a casa de um dos amigos. Divinal e brutal; até sabem melhor.
Grande berbigão á bolhão pato…

1 comentário:

  1. bem... quando nos apetece uma minezita e ela não há...

    por falar nisso... yayay

    abrazo serrano y europeo

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