Qual nobre profissão, que é o lenhador, ontem segui com a minha esposa, rumo a um pinhal, daqueles que recentemente sentiram o poder da destruição, através da fúria dum pirómano qualquer; e seguindo o teorema da formiga, da existência e da sobrevivência, lá fomos nós continuar mais uma fase do armazenamento. Motosserra, machada dentada (isto é o que faz por vezes rasgar pedras e pregos), carrinha, vontade, e lá embarcamos. O sol escaldava lá no alto, embora a hora tardia do entardecer; gravelhada mais que muita espalhada pela terra, como restos de velhas ossadas; rebentos de eucalipto que dominavam toda a terra, proliferando a sua conquista; uma carqueja aqui outra ali; pinheiros deitados e carcomidos nas suas carcaças, cobertos por alguns fetos; pinhas abertas pelo calor; e bicas secas, firmes, hirtas (como uma barra de ferro) e chamuscadas, que encenavam um ambiente dantesco, seco e agreste, como se o inferno ali tivesse estado… e passou, com todo o seu poder e submissão. Poucos seres não vacilaram, e conseguiram resistir: entre eles, bichos-de-conta, escondidos sob algumas carrascas húmidas; cigarras que afinavam o canto para a apresentação do Verão; e claro está, as formigas que nos ensinavam a lição de vida: armazenar.
Para meu espanto, cada bica abatida continha todo o cerne necessário, para aquecer uma daquelas noites invernosas de frio e humidade: elas tinham morrido de pé, sem abandonar o seu posto de comando; secaram de pé.
Depois do corte vem a recolha, e então o mais necessário para a ocasião: a força (o que é isso?), e uma mine fresca (esqueci-me delas!). Ai, ui, gemendo, empurrando, força daqui, força dali e …ufa, …, carga composta, ala que se faz tarde; o ripado e as mãos, ressentem a arrogância dos troncos, mas o estômago brada mais alto; vamos mas é para casa recobrar forças, que o desejo da sopa já se faz sentir. Os dois lavados em água, e maquilhados com uma base, ao tom do chamuscado e da estafa, seguimos satisfeitos da jornada, relembrando o videoclip dos Benassi Brothers (Satisfaction).
Já me imagino na poltrona, a ouvir o rezingão Inverno, o bater da chuva, e o silvar do vento, que nos aconchega ao crepitar da lareira: ah! Aaaaaaaah!
“A lenha aquece duas vezes, …” lá diz o povo!
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