domingo, 28 de fevereiro de 2010
Suicidio colectivo
Hoje, foi um dia mórbido, ...assisti a vários suicídios de árvores; não aguentaram a pressão climática, e suicidaram-se; deixaram um rasto de danos colaterais; … todas tinham um bilhete a pedir: “como ultima vontade, desejo ser incinerada”; … pequenos elfos vermelhos preparavam a ordem fúnebre, realizando in locco a autopsia; ... á marcha fúnebre, que já se estendia por uma centena de metros, compareceu uma multidão, com direito a comitiva das autoridades e tudo... que tragédia, ... um suicidio colectivo
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Falar directamente com Deus
... retirei do meu "arrumo", os calções, a bóia, … e a pesada lista telefónica, para procurar o numero de telefone do Sr. S. Pedro, ... talvez consiga mitigar a sua atenção, esbatendo um ar mais lastimoso, tipo lama espalhada pelas fuças… o melhor será falar directamente com Deus, porque hoje em dia falar com os Santos, não nos leva a lado nenhum.
Lavadouro do Verginho
“Estão a acabar-se-me as camisas; e as que estão a enxugar no arame, tardam em secar…” … mais vale pegar no pau de sabão azul da temperança, calçar as galochas da coragem, e seguir o sentido do lavadouro do Verginho.
A água continua a jorrar, pelos sulcos do caminho, indiferente e já rejeitada pela terra, … até a mim já me repugna, … “mas ela ainda cabe, deixa cair!” diz o pai.
Leva-se um cântaro de barro para não perder a viagem, para encher para a semana, e acamar na cantareira logo por baixo do canto da broa e da chouriça…
A água enche engrossando a cana da fonte, encanada no veio da nascente, … os bajanques derramam numa incontinência surdina, … é água no fontanário, e chuva no telhado, …
“… bom dia!” ao lado a Ti Benta bate a roupa, … entre o afoito da força e o espremer da roupa, “não sei para quem, com este tempo!”... resmunga.
Coloco o cântaro, á boca da cana, … ponho a camisa alva, mas com uma nódoa de azeite, sobre o lavadouro, … vou-me ao esfreganço com paciência…
“… o meu tino, foi p´ra França!” num saudoso rumor me informa… o sabão continua a esfregar a camisa e a nódoa que persiste imaculada, ...”raios!” quebro o silêncio do gotejar das calhas, … “ … e o que foi lá fazer?”
“ O lito do Canto, deu-lhe um trabalho por lá! … Sabes que sirvo na casa dos Justos, e o soldo e a sopa, não chegam para tudo! … e ele já tinha idade!”
A camisa continuava manchada! … “… é azeite do ´Dlino da Venda,… para não sair assim, de qualquer jeito!” declarou…
“Já tinha saudades duma fatia de pão torrado, com um dente de alho e um pingo de azeite! … Quando fui á almotolia, deixei cair uma gota maior, na camisa que tenho que levar á missa de Domingo, lá no seminário, … e já vou ouvir se ela não sair” expliquei inquietado…
“Dá tempo ao sabão, e á nódoa! Tem que curtir um pouco na água do bajanque …” mergulho a camisa enraivecido… vou dar atenção ao cântaro, que saturado de água gorgoleja...
“… o tempo não levanta, e eu preciso de ir apanhar meã e cozinha para o gado!” lamenta erguendo o alguidar, até o equilibrar numa rodilha sobre a cabeça … “…as nódoas também saem, … tem paciência! … esfrega com a calma do tempo!”
Contorço a camisa, … ergo o cântaro ao ombro, … acoito-me e preparo a ida para casa, … faz-se tarde, chove, e a janta hoje promete: migas de feijão manteiga, com brócolos e grelos de corte, … esbato um sorriso, a camisa está lavada.
A água continua a jorrar, pelos sulcos do caminho, indiferente e já rejeitada pela terra, … até a mim já me repugna, … “mas ela ainda cabe, deixa cair!” diz o pai.
Leva-se um cântaro de barro para não perder a viagem, para encher para a semana, e acamar na cantareira logo por baixo do canto da broa e da chouriça…
A água enche engrossando a cana da fonte, encanada no veio da nascente, … os bajanques derramam numa incontinência surdina, … é água no fontanário, e chuva no telhado, …
“… bom dia!” ao lado a Ti Benta bate a roupa, … entre o afoito da força e o espremer da roupa, “não sei para quem, com este tempo!”... resmunga.
Coloco o cântaro, á boca da cana, … ponho a camisa alva, mas com uma nódoa de azeite, sobre o lavadouro, … vou-me ao esfreganço com paciência…
“… o meu tino, foi p´ra França!” num saudoso rumor me informa… o sabão continua a esfregar a camisa e a nódoa que persiste imaculada, ...”raios!” quebro o silêncio do gotejar das calhas, … “ … e o que foi lá fazer?”
“ O lito do Canto, deu-lhe um trabalho por lá! … Sabes que sirvo na casa dos Justos, e o soldo e a sopa, não chegam para tudo! … e ele já tinha idade!”
A camisa continuava manchada! … “… é azeite do ´Dlino da Venda,… para não sair assim, de qualquer jeito!” declarou…
“Já tinha saudades duma fatia de pão torrado, com um dente de alho e um pingo de azeite! … Quando fui á almotolia, deixei cair uma gota maior, na camisa que tenho que levar á missa de Domingo, lá no seminário, … e já vou ouvir se ela não sair” expliquei inquietado…
“Dá tempo ao sabão, e á nódoa! Tem que curtir um pouco na água do bajanque …” mergulho a camisa enraivecido… vou dar atenção ao cântaro, que saturado de água gorgoleja...
“… o tempo não levanta, e eu preciso de ir apanhar meã e cozinha para o gado!” lamenta erguendo o alguidar, até o equilibrar numa rodilha sobre a cabeça … “…as nódoas também saem, … tem paciência! … esfrega com a calma do tempo!”
Contorço a camisa, … ergo o cântaro ao ombro, … acoito-me e preparo a ida para casa, … faz-se tarde, chove, e a janta hoje promete: migas de feijão manteiga, com brócolos e grelos de corte, … esbato um sorriso, a camisa está lavada.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Petição climática
Que belo repasto matinal, acompanhado de um entroar da mãe natureza, uma salga de foskamónio, e lavagem com uma chuva de cântaros!
Aos filhotes, tento incutir uma definição científica, para o fenómeno que admiro mas respeito, … e não um factor religioso “é Deus a ralhar com os homens, triste com os seus procedimentos”; mas não sei se nesta altura uma definição poética não viria mesmo a calhar, tipo “duas nuvens que bateram, sem crer, na avenida do Céu”, como quando poeticamente transmitia a uma pequena prima, que o algodão era colhido das nuvens, com um avião biplano…
Os filhotes acobardaram-se á brutalidade da natureza, … e eu temi por eles. Ambos procuraram refúgio madrugador na nossa cama “large size”, … visto haver espaço, que prontamente decidiram resgatar, bem e subtilmente sem oposição, com uns “chega para lá de pontapés e cotoveladas, que nós já chegamos”…
O resto do descansado sono, tinha ido com a chuva, … nada a fazer; o pequeno conquista terreno á minha fronha, com turras, e pontapés, … a filhota, com o desarrolhar do edredon; a precipitação, fustiga os estores, … já era.
Convenientemente, vou criar uma petição para trovoadas, chuvas, ventos, … mau tempo em geral, para decorrerem somente durante o horário de trabalho, e não durante o do descanso do guerreiro.
Aos filhotes, tento incutir uma definição científica, para o fenómeno que admiro mas respeito, … e não um factor religioso “é Deus a ralhar com os homens, triste com os seus procedimentos”; mas não sei se nesta altura uma definição poética não viria mesmo a calhar, tipo “duas nuvens que bateram, sem crer, na avenida do Céu”, como quando poeticamente transmitia a uma pequena prima, que o algodão era colhido das nuvens, com um avião biplano…
Os filhotes acobardaram-se á brutalidade da natureza, … e eu temi por eles. Ambos procuraram refúgio madrugador na nossa cama “large size”, … visto haver espaço, que prontamente decidiram resgatar, bem e subtilmente sem oposição, com uns “chega para lá de pontapés e cotoveladas, que nós já chegamos”…
O resto do descansado sono, tinha ido com a chuva, … nada a fazer; o pequeno conquista terreno á minha fronha, com turras, e pontapés, … a filhota, com o desarrolhar do edredon; a precipitação, fustiga os estores, … já era.
Convenientemente, vou criar uma petição para trovoadas, chuvas, ventos, … mau tempo em geral, para decorrerem somente durante o horário de trabalho, e não durante o do descanso do guerreiro.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Embalo do relógio
00:32 … com um olho no sono, e um ouvido nos filhotes, … comecei a deixar o ar de sentinela, e saltei para uma opção Zen, … mais descontraída, … relaxada, …
(…) algo me importunava, … o olho, não havia maneira de se pregar ao travesseiro, … e o ouvido mantinha frequência aberta com o mais pequeno; o remexer no colchão, a chucha que mamava, a agitação de um sonho menos alegre, o transformar do sonho num choro, …
…arrebatei as mantas, e saltei pronto, … embora semi-nu, engalfinhei-me, sentindo os músculos contraírem-se um a um, … voei para o quarto de pequeno.
“Então?” sussurrei … “… a ´peta, … (buááá)” de olhos cerrados sentado, chorando me gritou…
Palmilhei cada cm² do colchão, e a sossega do sono, não aparecia, … já intrigado, e engadanhado com o frio, remexi por baixo da almofada, com o desespero do sono que se intrometia … lá estava ela quieta, aguardando a visita de alguma fada, talvez.
Devolvi-a ao legítimo dono, e o desespero deu lugar á bonança, … aconchegou o corpo, ajustei-lhe as mantas, … deixei-o no seu fantástico sonho, …
01:07 … corpo novamente de regresso á caminha, … a temperatura ambiental, sacudira-me totalmente, contraindo-me, … o corpo, voltava á sua forma relaxada; agarrei-me á esposa, de forma a usurpar algum calor, que teimava em não aparecer, … e tudo devido ao ponto fraco que me importunava, e não reparara antes, … o dedo polegar do pé estava, quase no estado de criopreservação, …esse malandro roubou-me o sono, … hoje faz-me falta, …
02:36 … estou tentado a ligar, para alguma empresa cerâmica das redondezas, para ir aquecer este dedo, junto á tremunha do alimentador de serradura do forno, … tenho que me distrair: contar ovelhas que saltam o cercado de pedra, mas só penso na ovelha Choné, e uma só não dá resultado, só dá galhofa; criar palavras com a inversão dos números do relógio “LESO = 02:37, … OSSO = 05:50, … SOLO = 07:05” …
07:05 … berra o despertador, … de pé; … agora já está quente, mas tens que ir trabalhar, … a reter para o próximo sono: casa quente, pijama completo, botija de água quente, chupeta suplente á mão, e deixar de brincar com o despertador a criar palavras, …
(…) algo me importunava, … o olho, não havia maneira de se pregar ao travesseiro, … e o ouvido mantinha frequência aberta com o mais pequeno; o remexer no colchão, a chucha que mamava, a agitação de um sonho menos alegre, o transformar do sonho num choro, …
…arrebatei as mantas, e saltei pronto, … embora semi-nu, engalfinhei-me, sentindo os músculos contraírem-se um a um, … voei para o quarto de pequeno.
“Então?” sussurrei … “… a ´peta, … (buááá)” de olhos cerrados sentado, chorando me gritou…
Palmilhei cada cm² do colchão, e a sossega do sono, não aparecia, … já intrigado, e engadanhado com o frio, remexi por baixo da almofada, com o desespero do sono que se intrometia … lá estava ela quieta, aguardando a visita de alguma fada, talvez.
Devolvi-a ao legítimo dono, e o desespero deu lugar á bonança, … aconchegou o corpo, ajustei-lhe as mantas, … deixei-o no seu fantástico sonho, …
01:07 … corpo novamente de regresso á caminha, … a temperatura ambiental, sacudira-me totalmente, contraindo-me, … o corpo, voltava á sua forma relaxada; agarrei-me á esposa, de forma a usurpar algum calor, que teimava em não aparecer, … e tudo devido ao ponto fraco que me importunava, e não reparara antes, … o dedo polegar do pé estava, quase no estado de criopreservação, …esse malandro roubou-me o sono, … hoje faz-me falta, …
02:36 … estou tentado a ligar, para alguma empresa cerâmica das redondezas, para ir aquecer este dedo, junto á tremunha do alimentador de serradura do forno, … tenho que me distrair: contar ovelhas que saltam o cercado de pedra, mas só penso na ovelha Choné, e uma só não dá resultado, só dá galhofa; criar palavras com a inversão dos números do relógio “LESO = 02:37, … OSSO = 05:50, … SOLO = 07:05” …
07:05 … berra o despertador, … de pé; … agora já está quente, mas tens que ir trabalhar, … a reter para o próximo sono: casa quente, pijama completo, botija de água quente, chupeta suplente á mão, e deixar de brincar com o despertador a criar palavras, …
domingo, 14 de fevereiro de 2010
Ementa neste dia enamorado
No “Chez moi”, para este dia, reservada uma janta especial, com a qual nos degustámos: Amêijoa á Bolhão pato; vinho rosé deste Mundus; e “petit gateaux” quente com uma bola de gelado de natas.
Valeu ao “grand-maître” a ajuda singular da filhota e do pequeno, … grande momento para este dia enamorado …
Valeu ao “grand-maître” a ajuda singular da filhota e do pequeno, … grande momento para este dia enamorado …
Farmacia sentimental
A dor no peito e a preocupação, era de um crescendo, e visto as mezinhas da mãe não surtirem efeito, resolvi ir á farmácia do lugarejo. A porta guinchou, e a campainha, saudou a entrada; apareceu o farmacete, o Sr. Zé de bigode farfalhudo, mas atencioso “Bons Dias! O que deseja freguês?”. Olhei para as prateleiras brancas, e comecei a relatar a minha maleita “Ando a ter umas dores no peito…” … “Quem é a moçoila?” interrompeu; “... isto foi desde que bebi uma malga de amor quente, …” indaguei, … “Mas quem é a moça?” irrompeu de um modo arisco. “…é uma moça da aldeia vizinha, mas estuda na cidade!” declarei.
“Estou a ver, …” virou-me as costas, e remexendo no seu bigode, começou a espreitar para os frascos e caixas. Pegou em três caixinhas. “Esta caixa de beijos: um beijo de manhã e outro á noite, sem interrupção; esta pomada de felicidade, durante o dia; e estas ampolas de paixão, para qualquer hora!” embrulhando em papel manteiga, e escrevendo por fora o receituário. “Quanto é a paga?” pedi … fixou-me, mexeu o bigode, franziu o olho e perguntou para o gabinete: “ A conta deste moço, patrão?” apareceu o patrão “É o mesmo de sempre: uma vida bem vivida!”
“Sr. Zé do bigode fartaludo! Avie aquela receita do pastor da serra apaixonado! Ouvi dizer que estava a chegar, … não gosto de fazer esperar ninguém!”
“Estou a ver, …” virou-me as costas, e remexendo no seu bigode, começou a espreitar para os frascos e caixas. Pegou em três caixinhas. “Esta caixa de beijos: um beijo de manhã e outro á noite, sem interrupção; esta pomada de felicidade, durante o dia; e estas ampolas de paixão, para qualquer hora!” embrulhando em papel manteiga, e escrevendo por fora o receituário. “Quanto é a paga?” pedi … fixou-me, mexeu o bigode, franziu o olho e perguntou para o gabinete: “ A conta deste moço, patrão?” apareceu o patrão “É o mesmo de sempre: uma vida bem vivida!”
“Sr. Zé do bigode fartaludo! Avie aquela receita do pastor da serra apaixonado! Ouvi dizer que estava a chegar, … não gosto de fazer esperar ninguém!”
Café sentimental
Sentamo-nos numa mesa, junto á vitrina, com vista para o mar e para a serra, e logo apareceu, o “garçon” refinado, de esplendorosas asas: “Eis o cardápio!”
A uma vista de olhos, algo me cativou; ela olhava, para cada sugestão trincando o lábio: “Esta malga com um amor quente” pedi, e anotou; “Eu quero uma caneca, mas gosto sempre da caneca bem quente; não gosto do amor morno, nem frio” pediu ela por trás da brochura, … sorriu e apontou “… boa escolha”. Saiu prontamente com o nosso pedido.
Ela acarinhava-me a mão, docemente, … eu desviava o olhar para o seu cabelo ondulado. “Um amor quente numa malga, e um amor quente numa caneca bem quente”, … irrompeu “… não bebam tudo duma só vez; beberiquem!” Puxei da carteira, “quanto é?” … silenciou-se … olhou para ela, … “uma vida!” paguei, olhando enciumado para o “garçon”.
Deu umas mexidelas com a colher, o amor ainda estava muito quente; saboreou com os lábios, subtilmente e pausadamente … o olhar caiu-me para o decote, … a língua limpou o resto que resistia na sua colher.
“O meu patrão, manda um bem-haja, e agradece a gorjeta! … manda estas bagas de paixão.” que raio de intrometido .
“De onde vens afinal?” murmurou levando uma baga á boca, e trincando-a; “ sou um rapazito dali da aldeia” respondi timidamente, dando uma golada na caneca. “E tu?” retorqui; … “sou duma aldeia vizinha, mas estudo na cidade! E tu, que fazes?”
Lá vinha aquele metediço, … “que tal? Está no ponto?”,… já começava a achar, que o moço se andava a atentar à moça, mas seguiu para uma mesa que acabava de ser preenchida por freguesia.
“Andei a estudar no seminário, e agora vou começar a trabalhar!” disse pegando na baga e petiscando-a, … o seu castanho mel, brilhando ao sol, invadia-me o diálogo, … ela movimentava os lábios e os dentes, musicalmente, … lambeu uma gota das bagas, que restava no dedo. “… não sou rapaz de estroina; sou mais comedido!” , … riu-se e mexeu os cabelos, … o olhar voltou a cair para o decote, … “gosto de ti!” deu um gole na caneca…
Silenciei, o murmurar do bar, o tilintar das canecas, o ordenar do patrão que se ouvia da copa, … e guardei o momento, … “alias, eu amo-te” e invadiu-me com uns lábios ainda húmidos de amor bem quente, …
O patrão olhava por cima do bar sorrindo, e ordenou ao “garçon”: “Limpa aquela mesa! Prepara os dois lugares, vem aí mais fregueses!”
A uma vista de olhos, algo me cativou; ela olhava, para cada sugestão trincando o lábio: “Esta malga com um amor quente” pedi, e anotou; “Eu quero uma caneca, mas gosto sempre da caneca bem quente; não gosto do amor morno, nem frio” pediu ela por trás da brochura, … sorriu e apontou “… boa escolha”. Saiu prontamente com o nosso pedido.
Ela acarinhava-me a mão, docemente, … eu desviava o olhar para o seu cabelo ondulado. “Um amor quente numa malga, e um amor quente numa caneca bem quente”, … irrompeu “… não bebam tudo duma só vez; beberiquem!” Puxei da carteira, “quanto é?” … silenciou-se … olhou para ela, … “uma vida!” paguei, olhando enciumado para o “garçon”.
Deu umas mexidelas com a colher, o amor ainda estava muito quente; saboreou com os lábios, subtilmente e pausadamente … o olhar caiu-me para o decote, … a língua limpou o resto que resistia na sua colher.
“O meu patrão, manda um bem-haja, e agradece a gorjeta! … manda estas bagas de paixão.” que raio de intrometido .
“De onde vens afinal?” murmurou levando uma baga á boca, e trincando-a; “ sou um rapazito dali da aldeia” respondi timidamente, dando uma golada na caneca. “E tu?” retorqui; … “sou duma aldeia vizinha, mas estudo na cidade! E tu, que fazes?”
Lá vinha aquele metediço, … “que tal? Está no ponto?”,… já começava a achar, que o moço se andava a atentar à moça, mas seguiu para uma mesa que acabava de ser preenchida por freguesia.
“Andei a estudar no seminário, e agora vou começar a trabalhar!” disse pegando na baga e petiscando-a, … o seu castanho mel, brilhando ao sol, invadia-me o diálogo, … ela movimentava os lábios e os dentes, musicalmente, … lambeu uma gota das bagas, que restava no dedo. “… não sou rapaz de estroina; sou mais comedido!” , … riu-se e mexeu os cabelos, … o olhar voltou a cair para o decote, … “gosto de ti!” deu um gole na caneca…
Silenciei, o murmurar do bar, o tilintar das canecas, o ordenar do patrão que se ouvia da copa, … e guardei o momento, … “alias, eu amo-te” e invadiu-me com uns lábios ainda húmidos de amor bem quente, …
O patrão olhava por cima do bar sorrindo, e ordenou ao “garçon”: “Limpa aquela mesa! Prepara os dois lugares, vem aí mais fregueses!”
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Olha olha ...
“O que fizeste hoje, pequeno?” meto-me com ele, … na sua vida …
“Olha olha, … “ balbucia ele, … “casa do ´vô, …, qelho, … ´á meio, … lalanja canininha, …” indiferentemente cansado, dedilhando uns Lego´s teimosos.
“Fizeste isso tudo?” questionando a sua veracidade.
“Xim! …” confirmando com a cabeça e o olhar de ar maroto e risonho, e aditando … “a tio, …a popó, … ´cola mana…”
Estava perplexo, com tantas actividades … os afazeres do rapaz, sem dúvida nenhuma mais de meio-dia de laboeira …
(cantarola uma música, distraidamente …)
“… e hoje?”
“pffffff! Olha olha, … a cão, … biqueta, … café popó ´vô, …” relata desinteressadamente, remexendo vezes sem conta nem contar, nos Lego´s.
“Pai! Olha olha!” puxa-me o dedo e a atenção, … algo que á primeira vista não consigo vislumbrar, … uma construção qualquer, … algo abstractamente montado, … esfrega os olhos e as narinas, … o cansaço anda por aí … um leitinho quente, uma botija de água quente, um abraço quente, e o sorriso, … quente.
“Olha olha, … “ balbucia ele, … “casa do ´vô, …, qelho, … ´á meio, … lalanja canininha, …” indiferentemente cansado, dedilhando uns Lego´s teimosos.
“Fizeste isso tudo?” questionando a sua veracidade.
“Xim! …” confirmando com a cabeça e o olhar de ar maroto e risonho, e aditando … “a tio, …a popó, … ´cola mana…”
Estava perplexo, com tantas actividades … os afazeres do rapaz, sem dúvida nenhuma mais de meio-dia de laboeira …
(cantarola uma música, distraidamente …)
“… e hoje?”
“pffffff! Olha olha, … a cão, … biqueta, … café popó ´vô, …” relata desinteressadamente, remexendo vezes sem conta nem contar, nos Lego´s.
“Pai! Olha olha!” puxa-me o dedo e a atenção, … algo que á primeira vista não consigo vislumbrar, … uma construção qualquer, … algo abstractamente montado, … esfrega os olhos e as narinas, … o cansaço anda por aí … um leitinho quente, uma botija de água quente, um abraço quente, e o sorriso, … quente.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
frio ... enrigece o corpo
"Tenho frio, pai!" ... esta dualidade frio calor, baralha-me ... ou melhor, a minha inoperância perante esta causa.
"... se estiveres quietinho na cama, mesmo com os pés frios, é quanto basta para aqueceres, ..." comenta o pai ..."até pareces um trabelo; ... agora se não paras quieto, é frio de arrebate!"
"Não há nada melhor que pores uma manta de retalhos, tecida pela avó Maria, ... por cima do corpo, que assim só mexem os olhos, ... o peso aquece-te mais depressa, ..." diz a mãe. "... e uma pele de ovelha curtida aos pés, isso então é que é!" comenta o pai, ..."Nestes tempos, porque já não há retalhos, ajuda a botija de água quente, ... é a força deste tempo" ... tomo este conselho, porque as de retalhos, com cheiro a naftalina, guardadas na mala do enxoval, ... preservo-as com carinho, para abrir e arejarem em pleno Verão, com uma bela duma sesta por cima.
Ainda tinha um professor, dos tempos de seminário, "... antes de deitar, lavar os pés com água fria; é quanto basta, para uma noite bem dormida.O frio enrigece o corpo, e cura as maleitas!" é possível, ...
"Agora há os lençois térmicos e polares, mais leves que os de flanela, ... e aquecem mais rápido!" comenta a mãe.
"Filhota! Os avôs sabem destas coisas; fiquemos pela sopa de feijão no bucho, a lareira quente, e a botija aos pés." unanimidade na decisão: quentinho aos pés, estômago cheio e sonhos radiosos.
Tomo todos os conselhos por cautela; mas adiciono o toque pessoal: dormir aconchegado e abraçado com a esposa, quietinho, depois de um banho quente, no meio dos lençois térmicos, esmagado por edredons, que as de retalhos descansam até ao Verão, que ainda tarda...
"... se estiveres quietinho na cama, mesmo com os pés frios, é quanto basta para aqueceres, ..." comenta o pai ..."até pareces um trabelo; ... agora se não paras quieto, é frio de arrebate!"
"Não há nada melhor que pores uma manta de retalhos, tecida pela avó Maria, ... por cima do corpo, que assim só mexem os olhos, ... o peso aquece-te mais depressa, ..." diz a mãe. "... e uma pele de ovelha curtida aos pés, isso então é que é!" comenta o pai, ..."Nestes tempos, porque já não há retalhos, ajuda a botija de água quente, ... é a força deste tempo" ... tomo este conselho, porque as de retalhos, com cheiro a naftalina, guardadas na mala do enxoval, ... preservo-as com carinho, para abrir e arejarem em pleno Verão, com uma bela duma sesta por cima.
Ainda tinha um professor, dos tempos de seminário, "... antes de deitar, lavar os pés com água fria; é quanto basta, para uma noite bem dormida.O frio enrigece o corpo, e cura as maleitas!" é possível, ...
"Agora há os lençois térmicos e polares, mais leves que os de flanela, ... e aquecem mais rápido!" comenta a mãe.
"Filhota! Os avôs sabem destas coisas; fiquemos pela sopa de feijão no bucho, a lareira quente, e a botija aos pés." unanimidade na decisão: quentinho aos pés, estômago cheio e sonhos radiosos.
Tomo todos os conselhos por cautela; mas adiciono o toque pessoal: dormir aconchegado e abraçado com a esposa, quietinho, depois de um banho quente, no meio dos lençois térmicos, esmagado por edredons, que as de retalhos descansam até ao Verão, que ainda tarda...
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
... face, e sorri.
... beijo-lhes as faces, todas as manhãs e noites, ... "beija-me outra vez, com miminho" … e sorri, antes de nos largarmos da cama... "canta-me um embalo, pai" … canto mexendo-lhe no cabelo, e beijo a face, ... sorri adormecendo... o pequeno não é dado a essas coisas do amor, … gosta mais de dar chochos, e xi-coração de obrigação, … bem tento suborná-lo com histórias de embalo para o sono, mas ele é mais do sim ou sopas, não há negociações, … tentativas de beijar a face? Mais de mil … a brincadeira é o seu mundo, até o sono o fazer cair … mas o seu descanso é o meu consolo, … o beijo na face, que lhe dou, apanhando-o desprevenido no sonho … sorri.
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