O espírito já anda solto no ar, á quase um mês, graças aos média; e este ano, como todos os anos, o mesmo ritual: o edificar do pinheiro de Natal. Edificar, porque é uma autêntica montagem á destreza e mestria humana, de uma obra de arte que puxa os galões á engenharia, design e arquitectura.
Emproei a epopeia de visitar o sótão, em busca do pinheiro, bolas, luzes e enfeites, em demanda da época natalícia. Sacudi o pó de um ano, que repousava a um canto desta arrecadação esquecida. Desempacotado, … e peças, mais que muitas, o aroma do Natal, inebriou-nos com a sua magia: o pequeno, saltava de contentamento, pela novidade mas sem saber bem do que se tratava; a filhota só clamava: “Na-ta-l! Na-ta-l!”, ajudando rapidamente a esvaziar todas as caixas repletas de artefactos natalícios. Lá começámos nós, peça atrás de peça, ramo por cima de ramo, até perfazer o cone verde natalício. Agora, olhando ao que tínhamos, como prata da casa dentro da caixa das bolas, pinhas e gotas, vamos dar azo ás tendências da moda para este ano: ora, … bolas vermelhas, azuis, douradas, castanhas e laranjas; pinhas e gotas castanhas com pó dourado, … humm! É melhor ver o que há de fitas: vermelhas, douradas, brancas e prateadas, … um verdadeiro impasse. Para este ano, vamos colocar só bolas, gotas e uns pequenos bonecos talhados em madeira, representativos da época; e assim, pensamos ter acompanhado o in fashion deste ano. Fio de luzes psicadélicas colocadas, e teste do liga-apaga da luz do tecto, efectuados pelo pequeno, com sucesso, … tudo aprovado: a época natalícia está aberta.
“… e o Presépio?” pergunta a filhota. “Está ali, … guardado!” comentei. Faltava o Presépio, na realidade, … o marco mais representativo do Natal. Abri a caixa, limpei-o e coloquei-o bem á vista de todos, sobre o móvel, junto a uma vela da “Caritas”, para acender na noite de Natal. “Oh pai! Eu e a avó, encontramos musgo, perto dum pinhal da Serrada!” O famoso musgo, que acamava de verde, o Presépio, dando a ideia duma pastorícia verdejante onde as ovelhas pastores, Reis Magos, casinhas e fontanários, aguardavam a chegada do menino Jesus. Noutros tempos, juntávamo-nos em grupos de quatro ou cinco gaiatos, de modo a escolher e apanharmos, a melhor e maior quantidade possível de musgo. No caminho ainda trazíamos um pequeno pinheiro ao ombro, ainda a salivar resina, para enfeitar. Agora tudo é de Polipropileno, e resina. Já não há o ar natural e ambiental, do cheiro a verde, e da imperfeição da argila moldada á mão. “Tem a ver com o aspecto ecológico do Natal.” Talvez, … mas a memória é por vezes mais saudosa dos bons momentos de infância do verde e do trabalho da montagem da panóplia natalícia, do que um pinheiro tipo guarda-chuva, e um presépio já moldado e colado a uma base de cortiça, que os meus herdeiros irão relembrar para xis mil anos. O que interessa é o espírito da verdadeira mensagem natalícia…, já dizia Charles Dickens.
Um bem haja e feliz Natal…
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