No S. João, ocorreu-nos através da sugestão de um amigo que não pode estar presente (infelizmente por compromisso de agenda), por muito pena dele (e eu sei que sim), de irmos a uma party, mais conhecida por “festa do Zero”. O objectivo é esgotar o stock de líquidos existente da casa. Fim de semana agendado...
Depois do café, de dois dedos de conversa com o Sr. Carranca (vulgo Beirão) e com o Sr. Famous Grouse (vulgo whisky), da troca de novidades, e devidamente aprumados, saímos rumo a dita party.
Chegamos; a fila aparentava ser infindável, … afinal era uma ilusão de óptica. Tomamos o nosso lugar por ordem de chegada, era precioso manter a postura, os armários da entrada assim o exigiam; o som surdamente saia pela entrada; as luzes reflectiam psicadelicamente numa e noutra parede do hall; tomamos folgo, recebemos o ticket, e penetramos no ambiente.
A escuridão era cortada por um ou outro feixe colorido, o flash cintilava ritmicamente ao som da batida e do movimento da trupe. A festa, o trance, fervia efusivamente juvenil. Eu disse juvenil? Era mesmo o termo.
Olhamos uns para os outros! Sem falar sabíamos qual a questão: “Enganámo-nos? Era esta a porta? Não haveria uma escadaria lateral, para pessoas mais velhas?” Dizia-me o amigo: “A média de idades por estarmos hoje aqui, é de 20 anos!” É verdade, e atesto: a média deveria estar entre os 17-18 anos; e já contabilizamos os bartender, dj,s, dançarinas, armários e staff em geral. Seis pessoas naquele instante, alteraram a média em 3 pontos. A juventude está cá dentro, costumamos dizer. Comentamos que a grande parte desta malta, e atenção aquilo que vou dizer, … tem metade da nossa idade.
Dirigimo-nos religiosamente a um bar, para iniciar a epopeia a que nos tínhamos designado. “5 Carrancas, e uma agua oxigenada tingida!” (5 beirões + 1 whisky).
Refrescamos em meia dúzia de golos; e saltamos para o dance-floor. Entramos no espírito da house, tecno, trance, …, saltos, movimentos sincronizados, tectonik, cabeças a abanar, … calor dos corpos, humidade relativa superior á dos trópicos, silvar de euforia, … um ambiente brutal.
Ainda trocamos uns dedos de conversa com alguns alunos de medicina, alunos de informática, alunos …, que supunham sermos seus professores de algumas cadeiras académicas. E que respeito tivemos, … “Dr. Semedo para cá, Drª Queiroz para lá, Drª isto, Dr. Aquilo”! No fim de contas, trocamos algumas palavras, algumas alegrias, alguns passes dessa dança solta elástica em voga (tectonik), alguns saltos em grupo,… Ao final, já os bares estavam esgotados, nós já bebidos e encharcados em suor até ao tutano, as poças de líquidos acumulavam-se aqui e ali, resultado da gula e da humidade suada de tantas bebidas, o staff da casa já se misturava com a multidão que não arredava pé, o som ritmava o final da sessão, com sons mais apoteóticos, adivinhando o fechar do espaço.
Já era dia! Cacimbava, … Saímos, … cansados, alegres pela noitada de arromba, … e com fome, como sempre. Isto de saltar tanto, puxa pelo metabolismo celular. “Vamos carregar baterias!”
Como disse, brutal…
domingo, 28 de junho de 2009
sábado, 27 de junho de 2009
Fartura, benza a Deus!
È a época da recolha das colheitas; neste caso as batatas.
A Sarrada, terra airosa e fértil, resguardada por pinheiros á tarde, e exposta ao sol da manhã, conserva um talhão produtivo. Seguindo uma agricultura rotativa, cultiva batatas, milho, feijão, abóbora porqueira, e algumas árvores de fruto, como laranjas, maçãs peros, pêras, … durante o ano.
“Preciso de uma ajuda, na terra da Sarrada! É a apanha da batata!” disseram-me os pais. “Nós vamos pela fresca, que o calor a pico não se aguenta. Depois vens lá ter?”
“Claro que vou lá ter!” afirmei.
À hora combinada, apresentei-me na Sarrada, com o meu irmão. Saco a saco, enche a carrinha a caixa. Tanta e grossa batata, pensei. “Fartura, benza a Deus!” disse a mãe, ouvindo o meu pensamento. Bem que é verdade, que produção; 16 sacos de batatas.
Já repousam no sótão, divididas entre amarela e vermelha. Ai o meu ombro! “É falta de hábito! Eh, eh, eh, eh, …” exclamou o pai.
Boa colheita…
A Sarrada, terra airosa e fértil, resguardada por pinheiros á tarde, e exposta ao sol da manhã, conserva um talhão produtivo. Seguindo uma agricultura rotativa, cultiva batatas, milho, feijão, abóbora porqueira, e algumas árvores de fruto, como laranjas, maçãs peros, pêras, … durante o ano.
“Preciso de uma ajuda, na terra da Sarrada! É a apanha da batata!” disseram-me os pais. “Nós vamos pela fresca, que o calor a pico não se aguenta. Depois vens lá ter?”
“Claro que vou lá ter!” afirmei.
À hora combinada, apresentei-me na Sarrada, com o meu irmão. Saco a saco, enche a carrinha a caixa. Tanta e grossa batata, pensei. “Fartura, benza a Deus!” disse a mãe, ouvindo o meu pensamento. Bem que é verdade, que produção; 16 sacos de batatas.
Já repousam no sótão, divididas entre amarela e vermelha. Ai o meu ombro! “É falta de hábito! Eh, eh, eh, eh, …” exclamou o pai.
Boa colheita…
quarta-feira, 24 de junho de 2009
O Colchão da Noiva
Ao passarmos por este dia, lembro-me sempre de um amigo; não só por o nome do santo coincidir com o seu, mas por festejar mais um aniversário de vida. Parabéns!
Alegremente, estivemos presentes numa tertúlia de amizade, reunidos na alegria que nos junta de tempos em tempos, junto á churrasqueira; sardinha assada, fêvera assada, salada fria, “EA” (pub), mines e minuins , gelado, bolo do aniversário, conversas trocadas, sorrisos actualizados, crianças que brincam,… e o que aguardávamos com a maior expectativa, para rematar esta reunião, no final do finalmente, acompanhado a café e “Beirão” (pub): “o travesseiro da noiva”, ou “a almofada da noiva”, ou talvez “o colchão da noiva”.
Aquele bolo, segredo da confeitaria milenar desta família, que nos dá cabo da dieta. Uiiiiii! … não estava presente; que pena. Ficou a promessa suspensa, para o próximo encontro…
Viva o amigo e o S. João! Vivaaaa….
Alegremente, estivemos presentes numa tertúlia de amizade, reunidos na alegria que nos junta de tempos em tempos, junto á churrasqueira; sardinha assada, fêvera assada, salada fria, “EA” (pub), mines e minuins , gelado, bolo do aniversário, conversas trocadas, sorrisos actualizados, crianças que brincam,… e o que aguardávamos com a maior expectativa, para rematar esta reunião, no final do finalmente, acompanhado a café e “Beirão” (pub): “o travesseiro da noiva”, ou “a almofada da noiva”, ou talvez “o colchão da noiva”.
Aquele bolo, segredo da confeitaria milenar desta família, que nos dá cabo da dieta. Uiiiiii! … não estava presente; que pena. Ficou a promessa suspensa, para o próximo encontro…
Viva o amigo e o S. João! Vivaaaa….
terça-feira, 23 de junho de 2009
Best off: S. João Collection
Tudo se tinha passado á sensivelmente um ano; as festas de S. João, na terra, encaminhavam-se para a última hora. O calor do “não deixar cair a tradição por terra”, acabou por juntar uma dúzia e pouco de gente da terra.
Ao longo do ano, trabalhou-se aos fins-de-semana, na tasca das festas; efectuou-se uma série de eventos, entre almoços, jantares, corridas, porco no espeto, sopas e bailaricos; tudo no intuito de angariar algum soldo para as festividades que se encaminhavam a passos bem largos.
Contratos efectuados: artistas de renome mundial, quiçá da Europa, talvez Portugal, ou local; arcos que ostentam manjericos de bairros populares; fogo de artifício a encurtar; bebidas, petiscos e marinadas; tudo em prol das festas de S. João. Antes de servir qualquer bebida ou petisco, foi necessário passar por um rigoroso teste de provas, de modo a atestar a qualidade dos produtos (mines – excelentes; imperial – no ponto; Beirão – sempre fresco; Caipirinha – gostosona; vinho tinto – boa colheita). Resultado do controlo de qualidade: produtos aprovados. É claro que o sacrifício dos testes se ressente no corpo, mas por uma causa nobre, sofremos sempre.
Palcos montados, restaurante no lugar, bares levantados, sombras estiradas, publicidades esticadas, fitas e enfeites engalanados, quermesse enfeitada, luzes e arcos iluminados, e nós já estourados. O nervosismo instala-se. Estará tudo preparado?
“Carpe Diem”
Arregaçamos as mangas; vestimos a t-shirt; o cansaço e os músculos doridos, dão lugar a força “de não deixar morrer”, e mostrar o trabalho árduo de 365 dias de preparação.
Do nada se faz força; para servir ás mesas e no bar; para grelhar carne e carregar grades; para lavar louça e levar o andor; para levantar a moral e a louça das mesas; para saltar no moche do som de uma banda e comer uma sandes a correr; …
Acabou a festa, ultimas forças de genica, .... desmontar.
Entregamos a pasta, os bares, o restaurante, os arcos, as bebidas; escovamos o chão; apanhamos o lixo; devolvemos a publicidade; encaixotamos os enfeites; em suma, pusemos abaixo o arraial, que tanto suor nos levou a levantar.
Balanço: para mim cansado, mas satisfeito. Além do objectivo traçado ter sido cumprido na íntegra, mais que tudo, criei grandes amizades.
Para o ano, talvez mais haja , mas não sei quem continuará o tradicional festejo. Para mim já está; pelos outros não sei.
Um bem-haja a todos …, estamos de parabéns.
Ao longo do ano, trabalhou-se aos fins-de-semana, na tasca das festas; efectuou-se uma série de eventos, entre almoços, jantares, corridas, porco no espeto, sopas e bailaricos; tudo no intuito de angariar algum soldo para as festividades que se encaminhavam a passos bem largos.
Contratos efectuados: artistas de renome mundial, quiçá da Europa, talvez Portugal, ou local; arcos que ostentam manjericos de bairros populares; fogo de artifício a encurtar; bebidas, petiscos e marinadas; tudo em prol das festas de S. João. Antes de servir qualquer bebida ou petisco, foi necessário passar por um rigoroso teste de provas, de modo a atestar a qualidade dos produtos (mines – excelentes; imperial – no ponto; Beirão – sempre fresco; Caipirinha – gostosona; vinho tinto – boa colheita). Resultado do controlo de qualidade: produtos aprovados. É claro que o sacrifício dos testes se ressente no corpo, mas por uma causa nobre, sofremos sempre.
Palcos montados, restaurante no lugar, bares levantados, sombras estiradas, publicidades esticadas, fitas e enfeites engalanados, quermesse enfeitada, luzes e arcos iluminados, e nós já estourados. O nervosismo instala-se. Estará tudo preparado?
“Carpe Diem”
Arregaçamos as mangas; vestimos a t-shirt; o cansaço e os músculos doridos, dão lugar a força “de não deixar morrer”, e mostrar o trabalho árduo de 365 dias de preparação.
Do nada se faz força; para servir ás mesas e no bar; para grelhar carne e carregar grades; para lavar louça e levar o andor; para levantar a moral e a louça das mesas; para saltar no moche do som de uma banda e comer uma sandes a correr; …
Acabou a festa, ultimas forças de genica, .... desmontar.
Entregamos a pasta, os bares, o restaurante, os arcos, as bebidas; escovamos o chão; apanhamos o lixo; devolvemos a publicidade; encaixotamos os enfeites; em suma, pusemos abaixo o arraial, que tanto suor nos levou a levantar.
Balanço: para mim cansado, mas satisfeito. Além do objectivo traçado ter sido cumprido na íntegra, mais que tudo, criei grandes amizades.
Para o ano, talvez mais haja , mas não sei quem continuará o tradicional festejo. Para mim já está; pelos outros não sei.
Um bem-haja a todos …, estamos de parabéns.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
A vida caminha
A piropos e pegadas tantas, um prado verde assinalado com um velho sobreiro, de hastes largas e frondosas, sombreando luzerna amarelada, com a sua ramada esverdeada; galgo o muro de pedras amontoadas, e descanso á sua sombra. Abro a sacola; estendo o pano, o pão, o queijo, e o vinho. Divido comigo o repasto, … e ao calor do dia, vem a fadiga, … por hora descanso um pouco; a jornada parece-me longa; … adormeço sobre desejos concretizados, e sonhos que nascem…
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Comentários
Ja sacudi o pó amigo... continuo a viagem. Passei a Emaús, e que belo dia,...A merenda vai na sacola: além de dúvidas, palavras, vida, memórias,... levo queijo, vinho e pão.Talvez um piropo venha a ouvir, mas talvez não tão duro como já ouvi... a vida tem disto. Vou a caminho.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
A caminho de Emaús...
As 10:39h da manhã, já me pareciam, umas 15:00h; um calor infernal, a pico, que nos pede uma sombra, ou um simples curso de água fresca, para um mergulho.
Aglomeravam-se algumas pessoas junto á tasca, e amotinavam-se as viaturas junto ao muro da capela; era o meu dia de abrir a horas. No entanto, mantinha a seriedade e o respeito de não abrir mais cedo: falecera uma senhora. Falava-se de tudo e nada, á sombra da tasca.
O funeral saindo, conduzia em direcção á sua ultima morada. O largo ia esvaziando as suas gentes; abri a tasca.
Ia ser o ultimo dia de um ano de mordomo, ou festeiro. Era uma esmola para as festas, uma companhia para o pessoal da malha.
"Um Favaios, fresco!", "Um café cheio, pingado!", "Uma água das pedras, que a noite foi dura!" ou "um traçado, fresco!"; iam chovendo os pedidos, á medida do aviar. Ouvia-se o picar da malha, o bater e chiar do ferro, com a alegria do acertar na testa, no prego, ou fazer a cama.
"Não tens mais fresco?" exigia um freguês descontente, matando dois golos de sede. "É do tempo, e das máquinas encaixotadas a este espaço", desculpei-me ironicamente, sabendo dos antecedentes de não ter colocado as máquinas á carga máxima. Pagou!
Primeiro cinco, depois mais três ou quatro, aficionados da Vespa, cheios de calor e sede: "Finalmente! Nem sabe há quanto tempo, eu estava á espera de matar este bicho; sai uma mine bem fresca!", e como bando de ordeiros e em uníssono, viraram as mines, num piscar de olhos. "De onde vêm?" indaguei. "Agora de Fátima! Mas somos de Coimbra... (um espremer da garrafa), alias, de S. Silvestre!"; " Tínhamos que abastecer..." dizia outro rindo. "Mais uma rodada, para a viagem": suplicava outro, puxando a carteira. Beberam, pagou,e seguiram destino.
O peso da malha já não tenia umas nas outras; a sombra era ocupada por mesas, e jogava-se as cartas; embrulhava-se rifas no meio de cusquisses; trocava-se dois dedos de sabedoria com alguns velhos da terra, no meio de um traçado; a tarde fugia...
Os amigos aparecem, com a promessa do jantar. Algo rápido, simples e bom: tomatada de berbigão em abundante cebolada; e camarão picante em cama de azeite e alho. Convite aceite.
Era hora de fechar a tasca. Mas o dia continuava, entardecia para a noite... estava incrivelmente agradável.
Nisto,... um vulto. Cansado, débil e fraco; barba de longos dias, grisalha e branca. Para, e questiona numa mistura de palavras latinizadas: "Queria pedir um favor. Guarida para este humilde servo!" Olhamos, uns para os outros um pouco cépticos. "Posso acampar no pinhal? É que venho de Fátima, e já não tenho forças para mais. Tenho uma tenda. Só quero mesmo repousar."
O sotaque denunciava, alguém de origem espanhola, ou italiana. "O senhor vem de onde?" perguntou a amiga num gesto de curiosidade. "Di Roma!" respondeu-nos. Olhamos uns para os outros, segredando: o homem já não pode mais; deixemo-lo descansar.
"Sou um monge franciscano, em Roma, que todos os anos venho a Fátima de bicicleta; demoro dois meses de viagem para cada sentido; e ajudo 150 banbinos sem condições, esfomeados, e órfãos; venho agradecer..."
"O Senhor tem fome?" perguntamos. " Vou comendo aqui, e ali, ... quero simplesmente descansar." Abriu uma pequena bolsa, e tirou duas medalhinhas, que entregou á filhota, e ao filho de um amigo. Agradecemos...
Fechei o resto que havia para fechar da tasca. Deixamos que o entardecer, o deitasse ao descanso. Saímos...
Voltamos mais tarde, acompanhados de uma sandes fresca, fruta, e iogurte. O passageiro continuava o seu descanso. Deixamos a nossa oferta, e saímos com o silêncio da noite.
Lembrei-me de alguém que passeava pelas estradas de Emaús... que belo dia...
Aglomeravam-se algumas pessoas junto á tasca, e amotinavam-se as viaturas junto ao muro da capela; era o meu dia de abrir a horas. No entanto, mantinha a seriedade e o respeito de não abrir mais cedo: falecera uma senhora. Falava-se de tudo e nada, á sombra da tasca.
O funeral saindo, conduzia em direcção á sua ultima morada. O largo ia esvaziando as suas gentes; abri a tasca.
Ia ser o ultimo dia de um ano de mordomo, ou festeiro. Era uma esmola para as festas, uma companhia para o pessoal da malha.
"Um Favaios, fresco!", "Um café cheio, pingado!", "Uma água das pedras, que a noite foi dura!" ou "um traçado, fresco!"; iam chovendo os pedidos, á medida do aviar. Ouvia-se o picar da malha, o bater e chiar do ferro, com a alegria do acertar na testa, no prego, ou fazer a cama.
"Não tens mais fresco?" exigia um freguês descontente, matando dois golos de sede. "É do tempo, e das máquinas encaixotadas a este espaço", desculpei-me ironicamente, sabendo dos antecedentes de não ter colocado as máquinas á carga máxima. Pagou!
Primeiro cinco, depois mais três ou quatro, aficionados da Vespa, cheios de calor e sede: "Finalmente! Nem sabe há quanto tempo, eu estava á espera de matar este bicho; sai uma mine bem fresca!", e como bando de ordeiros e em uníssono, viraram as mines, num piscar de olhos. "De onde vêm?" indaguei. "Agora de Fátima! Mas somos de Coimbra... (um espremer da garrafa), alias, de S. Silvestre!"; " Tínhamos que abastecer..." dizia outro rindo. "Mais uma rodada, para a viagem": suplicava outro, puxando a carteira. Beberam, pagou,e seguiram destino.
O peso da malha já não tenia umas nas outras; a sombra era ocupada por mesas, e jogava-se as cartas; embrulhava-se rifas no meio de cusquisses; trocava-se dois dedos de sabedoria com alguns velhos da terra, no meio de um traçado; a tarde fugia...
Os amigos aparecem, com a promessa do jantar. Algo rápido, simples e bom: tomatada de berbigão em abundante cebolada; e camarão picante em cama de azeite e alho. Convite aceite.
Era hora de fechar a tasca. Mas o dia continuava, entardecia para a noite... estava incrivelmente agradável.
Nisto,... um vulto. Cansado, débil e fraco; barba de longos dias, grisalha e branca. Para, e questiona numa mistura de palavras latinizadas: "Queria pedir um favor. Guarida para este humilde servo!" Olhamos, uns para os outros um pouco cépticos. "Posso acampar no pinhal? É que venho de Fátima, e já não tenho forças para mais. Tenho uma tenda. Só quero mesmo repousar."
O sotaque denunciava, alguém de origem espanhola, ou italiana. "O senhor vem de onde?" perguntou a amiga num gesto de curiosidade. "Di Roma!" respondeu-nos. Olhamos uns para os outros, segredando: o homem já não pode mais; deixemo-lo descansar.
"Sou um monge franciscano, em Roma, que todos os anos venho a Fátima de bicicleta; demoro dois meses de viagem para cada sentido; e ajudo 150 banbinos sem condições, esfomeados, e órfãos; venho agradecer..."
"O Senhor tem fome?" perguntamos. " Vou comendo aqui, e ali, ... quero simplesmente descansar." Abriu uma pequena bolsa, e tirou duas medalhinhas, que entregou á filhota, e ao filho de um amigo. Agradecemos...
Fechei o resto que havia para fechar da tasca. Deixamos que o entardecer, o deitasse ao descanso. Saímos...
Voltamos mais tarde, acompanhados de uma sandes fresca, fruta, e iogurte. O passageiro continuava o seu descanso. Deixamos a nossa oferta, e saímos com o silêncio da noite.
Lembrei-me de alguém que passeava pelas estradas de Emaús... que belo dia...
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