segunda-feira, 11 de junho de 2012

Made in 1972 ...


Olho para o interior, … novo a brilhar, o cheiro ainda da fabrica, … modesto, a telefonia ao centro, o espelho ao cimo, manómetros cravados no “tablier”, bancos estufados e costuras brancas salientes, ... tudo no seu devido lugar.
Os vendedores, na casa dos 26 e dos 24 anos, um casal simpático, que não impingem nada: simplesmente a verdade… “Depósito atestado, chave e documentos!”
Marca Life, … modelo “int.Enta.m” … 0 anos.
Abro a porta, acomodo-me, … giro a manete do vidro que desce, escondendo-se na porta, … procuro o canhão, insiro e rodo a chave, e … o motor obedece. Os cilindros galopam, … carrego duas vezes no acelerador, o turbo assobia desgovernado, o motor sincroniza a potência e a força. A telefonia emite uma indefinição de sintonização, …
Engato a primeira, e o carro arrasta-se para fora do stand: coloco os Diesel de lentes verdes, para me proteger do sol … e sigo.
O caminho apresenta-se um pouco em mau estado, mas vou-me desviando … os kms vão se sucedendo vagarosamente, … a paisagem vai passando numa mistura de vivências; uma lomba que me catapulta num salto, entrando noutra região… sobrevivo.
Ao km 18, uma bifurcação; encosto á berma, … desligo o motor; saio do carro e pondero as duas indicações:  “Sacerdócio” ou “Marido e Pai”? Coço a cabeça, … consulto o mapa, … as vias não aparecem cartografadas. Decido deixar a via “Seminarista”, e sigo a “Marido e Pai”. Chuva, vento e trovoada, mas a viatura aguenta. Ainda penso em voltar atrás… mas sigo.
Paro numa estação de serviço solitária. O reclame tilinta ao som do néon: “Carpe Diem”. Entro no pequeno café, iluminado a fluorescente, ao som de um pequeno sino que sinaliza o único cliente; sento-me: “O que deseja?” pergunta uma voz que vem, julgo eu da copa, … olho para uma ardósia negra, que enumera os vários pratos e bebidas. “Um simbalino , e uma fatia de tarde de maçã, com uma bola de gelado de baunilha, se faz favor!” digo para o vazio. O tilintar da porta volta a ecoar… ouço os passos de uma moça que, ocupa o lugar ao meu lado, … “Olá! Posso me sentar aqui ao teu lado?” colocando uns livros sobre o balcão … “Posso dar uma trinca na tarte?” iniciando a conversa que se arrasta pelo tempo, á nossa volta … prontifico-me em dar-lhe uma boleia, para não deixar a conversa solta. Deixo as moedas sobre o balcão, e o prato vazio.
Seguimos … a conversa, vai boa e acompanha o tempo, clareando o horizonte. Passamos junto ao mar, só para sentir a brisa salgada. Ela ri-se ... voltamos á via.
Os dias de sol, vão acompanhando as longas searas de trigo verdejante; cruzamos por amigos que nos encaminham, e orientam pela via lactea: “mandaremos postais!”, dizemos continuando e agradecendo...
O carro já está mais composto, … duas lindas crianças ocuparam os bancos de trás. A moça de olhar amêndoa mel, que raia de verde ao sol, continua ao meu lado, no seu vestido castanho retro, de padrão azul vintage quadriculado. Os amigos continuam a receber e a enviar postais desta minha jornada.
Entro na região de Enta; um ligeiro nevoeiro que se levanta: dou uma sapatada no pedal, e o carro rosna sem medo, acatando a minha ordem…, rasgando a via.
Km 40: que bela viagem e que boa companhia… 

4 comentários:

  1. que história tão fixe.
    daqui a 2 meses também chego ao km 40.

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  2. El Matador: O km 40 está a ser um "must"...
    Obrigado pela visita
    Um abraço...

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  3. Ditonysius, que forma encantadora de contar uma história... Eu, que nem sou fã de literatura de viagens, adorei o relato da tua! Espero que a jornada continue, linda e ligeira! =)

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  4. Briseis: É esta bela vida que temos, ... em que todos viajamos, aproveitando as paisagens. Obrigado pela visita. Um abraço...

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